Apenas 149 cidades brasileiras (2,78%) têm mais de 3,73 médicos por mil habitantes, o que corresponde à média da OCDE em 2023
O Programa Mais Médicos completou dez anos de existência e, mesmo assim, 78% dos municípios brasileiros ainda não têm dois médicos para cada mil habitantes. A iniciativa surgiu como uma resposta à falta de profissionais de saúde em áreas remotas e vulneráveis do país e tem o propósito de melhorar a atenção básica e ampliar o acesso ao sistema de saúde, com base nos padrões estabelecidos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Os dados foram obtidos pelo Painel da Educação Médica, uma plataforma desenvolvida pela Associação dos Mantenedores Independentes Educadores do Ensino Superior (AMIES) em parceria com o portal Melhores Escolas Médicas (MEM). A análise abrange 5.359 municípios que possuem pelo menos um médico. Dentre esses, 4.211 (78,58%) têm até 1,7 médico por mil habitantes, o que representa o menor índice registrado pela OCDE em 2012, antes da implementação do programa. Em contraste, apenas 149 cidades brasileiras (2,78%) têm mais de 3,73 médicos por mil habitantes, o que corresponde à média da OCDE em 2023.
A análise também revela grandes variações entre os municípios. Por exemplo, Colares, no Pará, com uma população de 12.868 habitantes, tem apenas 0,03 médico por mil habitantes, enquanto Faxinal do Soturno, no Rio Grande do Sul, com uma população de 6.702 pessoas, tem uma média de 12,24 médicos por mil habitantes.
Além disso, a disparidade entre regiões é notável. As regiões Sul (2,98 médicos por mil habitantes), Sudeste (2,97) e Centro-Oeste (2,75) já atingiram a meta do Mais Médicos de 2,65 médicos por mil habitantes, que está prevista para 2026. Entretanto, o Nordeste (1,87) e o Norte (1,62) ainda estão longe de alcançar essa meta e da média da OCDE, que era de 3,7 médicos por mil habitantes no ano passado.
Embora o Programa Mais Médicos tenha sido concebido para reestruturar a oferta de vagas para graduação e residência médica e direcionar os profissionais para as regiões mais carentes, a abertura de novas vagas enfrenta vários desafios. Dessa forma, tais obstáculos impedem que o Brasil alcance a média de médicos recomendada pela OCDE. O programa enfrentou diversos atrasos devido a postergacões e disputas judiciais sobre a abertura de novas vagas, que afetaram a formação de novos profissionais.