MPDFT denuncia empresa apadrinhada por secretários Marcelo Piauí e Lucilene Florêncio e familiares da vítima vão à justiça responsabilizar a Secretaria de Saúde.
Por: Mino Pedrosa
Uma história escabrosa, registrado em documento interno altamente sigiloso na Secretária de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), revela a ação criminosa e imputou a empresa MV Sistemas Ltda a responsabilidade na morte do paciente internado na Clínica Médica do Hospital Regional de Sobradinho (HRS).
O documento encontra-se também adormecido no fundo da gaveta da Secretária de Saúde Lucilene Maria Florêncio de Queiroz, que trabalha arduamente para inserir a empresa MV Sistemas Ltda no projeto de Tecnologia da Informação a ser implantado pela SES-DF, a mando do Secretário-Adjunto da Casa Civil do Distrito Federal, Marcelo Martins da Cunha, o Marcelo Piauí, ambos que serão agraciados generosamente pela empresa.
O governador do Distrito Federal Ibaneis Rocha (MDB-DF), delegou a Marcelo Piauí, considerado seu braço direito, o acompanhamento de todos os processos e licitações na pasta da saúde, Piauí está em contato frequentemente com representantes de empresas, fornecedores que generosamente atendem o projeto de governo Ibaneis.
Piauí, picado pela mosca azul, almeja uma candidatura de vice-governador em alguma chapa, mas pelo visto, será contemplado como suplente de Ibaneis Rocha ao Senado e já conversa ao pé da orelha de alguns empresários que possam “ajudar” na campanha.
O Memorando Nº 148/2023 – SES/SRSNO da Superintendente da Região de Saúde Norte, Debora Cristina Da Silva Fernandes Goncalves é elucidativo e chama a atenção das autoridades do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios – (MPDFT), que já prepara uma denúncia responsabilizando a empresa e a gestora de Saúde Lucilene Florêncio.
A empresa MV Sistemas Ltda é responsável pelo Sistema de Gestão Hospitalar presentes nos IHC e IGES, considerada ineficaz no atendimento aos pacientes da rede pública e tem um contrato milionário com IGES e agora pretende abocanhar um projeto junto com a Coordenação Especial de Tecnologia de Informação em Saúde – CTINF da pasta da SES-DF.
Relatório na Controladoria-Geral do Distrito Federal apontam que as informações dos pacientes da Rede de Saúde Pública do DF não estão integradas. No relato descrito no documento produzido pela doutora Debora Cristina Da Silva e encaminhado a Coordenação Especial de Tecnologia de Informação em Saúde – CTINF e SAA entregue a Secretária de Saúde Lucilene Florêncio detalha a:
- “ Ocorrência de evento adverso grave com desfecho FATAL ocorrido na Clínica Médica do Hospital Regional de Sobradinho (HRS) devido à falha de comunicação entre os sistemas de informática Trakcare, MV e GAL, por sua vez, notificada ao Núcleo de Segurança do Paciente e relatada através do SEI 00060-00346204/2023-75.
- O fato supracitado refere-se a paciente internado na Clínica Médica do HRS em 07/06/23 com diagnóstico de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA) relacionada à infecção pelo HIV, já em fase avançada. Diante de tal panorama, realizou-se investigação de doenças oportunistas, tendo sido identificado um provável acometimento pulmonar nos exames de imagem. Posteriormente, foram realizados BAAR de escarro, com resultados negativos. Procedeu-se à solicitação de genexpert para tuberculose (TB) no escarro, porém, a mesma configurou-se infrutífera. Dessa forma, o paciente foi encaminhado para o Hospital de Base em 15/06/2023 para realização de diversos exames, dentre eles broncoscopia, e a inclusão de genexpert para TB no lavado broncoalveolar. No dia 21/06 o paciente evoluiu com piora progressiva do quadro pulmonar e geral, culminando em choque séptico refratário e veio a óbito.
- Após o desfecho, os residentes de Clínica Médica que assistiam o caso entraram em contato com uma colega que está realizando rodízio no Hospital de Base, porém o resultado de genexpert para TB ainda não estava disponível no sistema MV, utilizado por aquele hospital. No dia seguinte foi tentado novamente acessar o exame e identificaram um resultado “detectável” para Mycobacterium tuberculosis, com data de liberação no dia 19/06/2023 (embora não estivesse disponível no dia 21/06).
- A gravidade do ocorrido se dá ao considerar-se que o genexpert para TB é um exame rápido, cujo resultado deve sair em até 2h após a sua realização, permitindo assim um tratamento precoce e o aumento da detecção da tuberculose resistente, com a consequente redução da morbidade e mortalidade da doença, haja vista que resultados positivos de genexpert para TB são críticos e precisam ser comunicados rapidamente para início do tratamento em tempo oportuno, a fim de evitar o óbito do paciente, como ocorrido. Portanto, o atraso na disponibilização do resultado do caso supracitado – que inclusive encontra-se inacessível no Trackcare até a presente data, plataforma esta utilizada no hospital onde o paciente estava internado – MUITO PROVAVELMENTE foi a causa, ou contribuiu fortemente, para o seu óbito. É cediço que a TB é extremamente grave e configura-se enquanto importante causa de mortalidade em pacientes com SIDA avançada, como era o caso em questão.
- Diante do exposto, torna-se imperiosa a elaboração, implementação, execução e monitoramento de um plano de ação voltado à interoperabilidade dos sistemas utilizados na rede SES-DF em seus mais diversos níveis de Atenção à Saúde, a fim de que situações como a exposta não ocorram novamente. Portanto, encaminhamos os autos solicitando por gentileza, que seja verificada a viabilidade de realizar a integração dos sistemas operacionais Trakcare, MV e GAL e ainda, que sejam fornecidas orientações sobre como proceder em situações análogas, caso sejam recorrentes.”
A baixa confiabilidade no Sistema TrakCare motivou o surgimento de outros sistemas, contribuindo para a segmentação das informações de saúde do DF. Hoje, a SES/DF conta com vários sistemas não integrados.
MV Soul: Sistema de Gestão Hospitalar presentes nos IHC e IGES.
TrakCare: Sistema de prontuário eletrônico e faturamento empregado nos hospitais, policlínicas e laboratórios sob gestão da SES/DF;
E-SUS AB: Sistema fornecido pelo Ministério da Saúde para utilização na atenção básica da rede de saúde pública e pode ser operado em modo online ou off-line;
Horus: Sistema para dispensação de medicamentos nas Farmácias de Componentes Especializados.
Portanto, há a presença de pelo menos quatro sistemas utilizados em diferentes instâncias de atendimento e em diferentes unidades de saúde, sem que haja qualquer integração das informações registradas. Ou seja, unidades de saúde que deveriam compor uma rede integrada não trocam informações médicas dos pacientes. Com todas as informações de ineficiência da empresa MV Sistemas Ltda a Secretária de Saúde Lucilene Florêncio e Marcelo Piauí, Secretário-adjunto da Casa Civil do Distrito Federal, insistem fazendo vista grossa para atender a empresa que vem sendo tão generosa nos encontros costumeiros.