Rússia discute cessar-fogo proposto pelos EUA e avalia contato com Trump

Negociações avançam com telefonemas entre negociadores russos e americanos; Moscou mantém ceticismo sobre os termos da trégua e busca maximizar ganhos estratégicos

A Rússia iniciou as discussões sobre os termos do cessar-fogo proposto pelos Estados Unidos e aceito pela Ucrânia, com o objetivo de negociar um desfecho para o conflito iniciado por Vladimir Putin em 2022. O presidente russo pode conversar com seu homólogo americano, Donald Trump, já nesta quinta-feira (13).

De acordo com Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, houve contatos telefônicos na quarta-feira (12) entre negociadores dos dois países. As conversas envolveram Mike Waltz, assessor de Segurança Nacional dos EUA, e Iuri Uchakov, consultor presidencial russo.

O principal negociador de Trump, Steven Witkoff, enviado ao Oriente Médio, chegou a Moscou nesta quinta-feira para tratar dos termos do acordo. Peskov mencionou que o presidente russo pode realizar um telefonema internacional ao longo do dia, sem confirmar o destinatário ou se Uchakov já apresentou a posição russa.

A proposta enfrenta ceticismo em Moscou, que deseja maximizar seus ganhos estratégicos. Um dos pontos de descontentamento é a concessão feita por Trump de reativar a ajuda militar a Kiev em troca da trégua de 30 dias. Além disso, os russos veem com ressalvas a falta de um plano concreto, havendo apenas a ideia de uma pausa temporária para futuras discussões. Até agora, apenas medidas básicas foram especuladas, como trocas de prisioneiros.

Na Ucrânia, algumas demandas divulgadas pela imprensa incluem a devolução de milhares de crianças levadas para a Rússia. Moscou alega um ato humanitário, enquanto o Tribunal Penal Internacional classifica a prática como crime de guerra. O impasse sobre essa questão torna improvável um avanço significativo na negociação.

Cenário de guerra

Waltz e Uchakov já haviam se encontrado em Riad, na Arábia Saudita, há duas semanas, durante as conversas promovidas por Trump. No entanto, a postura errática do líder americano, que recentemente chamou Zelenski de “ditador” e o expulsou da Casa Branca, gera preocupação em Moscou. Segundo uma fonte envolvida nas negociações, não está claro o que os EUA prometeram a Kiev durante uma reunião na última terça-feira (11) em Jeddah.

O caminho para um acordo definitivo envolve questões complexas: concessões territoriais, garantias de segurança, status das regiões anexadas pela Rússia, reparos econômicos e o destino das populações deslocadas pelo conflito.

Maria Zakharova, porta-voz da chancelaria russa, reafirmou que Moscou não aceitará a presença de tropas ou bases militares estrangeiras na Ucrânia, uma possibilidade levantada por líderes europeus e pelo próprio Trump.

Putin busca capitalizar avanços recentes no leste ucraniano e reforçar sua posição, especialmente após a incursão ucraniana em Kursk, região que chegou a ser ocupada por tropas de Zelenski. A contraofensiva russa está em curso, e Kiev já admite recuos táticos. O Ministério da Defesa russo declarou nesta quinta-feira a retomada de Sudja, um dos principais pontos de apoio ucraniano.

A retirada das tropas ucranianas representa uma desvantagem para Zelenski nas negociações, embora analistas russos especulem se a ação faz parte de um acordo com os EUA. O próprio Putin visitou a linha de frente na quarta-feira, algo incomum, vestindo uniforme militar camuflado. Peskov comentou apenas que “ele achou necessário”.

O presidente russo tenta projetar uma imagem de líder de guerra em um momento em que Trump afirma que “a bola está com a Rússia”. Para o público interno, é essencial reforçar um sentimento de vitória. Para o externo, demonstrar controle e força.

Enquanto isso, os combates continuam. Os ucranianos alegam ter abatido 74 de 117 drones russos durante a noite, enquanto Moscou relatou a destruição de 77 drones inimigos, sem especificar o total lançado. O impasse persiste, e as negociações seguem em um cenário de incertezas.

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