Trocas de delegados refletem estratégia de fortalecimento da corporação, com foco em investigações de alto perfil e disputas internas por cargos de destaque
A Polícia Federal (PF) está implementando mudanças estruturais, com destaque para a substituição do diretor da Diretoria de Inteligência Policial (DIP). O atual diretor, Rodrigo Morais, deixará o cargo para assumir a função de adido em Londres, e será sucedido por Leandro Almada, atual superintendente da PF no Rio de Janeiro. Almada, conhecido pelo protagonismo no caso Marielle Franco, assume a missão de liderar o setor responsável pelas investigações mais sensíveis da corporação.
A DIP ganhou relevância nos últimos anos sob a gestão do diretor-geral Andrei Rodrigues (foto em destaque), especialmente por concentrar as investigações de alto perfil envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados. Rodrigo Morais foi um dos delegados mais destacados nesse período, conduzindo inquéritos que resultaram em uma agenda positiva para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Seu nome, porém, já havia gerado controvérsias, especialmente quando, em 2018, investigou a facada sofrida por Bolsonaro. O delegado foi criticado por aliados do então presidente e se afastou do inquérito pouco antes de ser transferido para os Estados Unidos.
O movimento de trocas na PF não se restringe à DIP. As mudanças refletem um padrão novo de transição, em que, além da saída de Rodrigo Morais, outros cargos de destaque também estão sendo preenchidos. William Marcel Murad, atual adido em Londres, será substituído por Rodrigo Morais, enquanto a PF prepara a nomeação de um novo diretor-executivo, cargo deixado vago pela saída de Gustavo Leite, que assumirá uma posição na Interpol, sob o comando de Valdecy Urquiza, novo diretor da DCI (Diretoria de Cooperação Internacional).
Leandro Almada, novo chefe da DIP, é um nome consolidado na corporação, com uma trajetória de liderança, incluindo a coordenação do inquérito que investigou o assassinato de Marielle Franco. Durante sua gestão no Rio de Janeiro, Almada foi responsável por montar a equipe que finalizou a apuração e identificou membros da família Brazão como mandantes do crime. Para a nova função, Almada deve contar com delegados que o acompanharam nesse caso, como Jaime Cândido, cotado para assumir a Coordenação Geral de Inteligência (CGI).
Outro movimento importante diz respeito à Coordenação-Geral de Contrainteligência (CGCINT), onde Rafael Caldeira, atual chefe da CGI, é cotado para ocupar o cargo. Caldeira tem uma história de sucesso na corporação, tendo sido responsável pela operação La Muralla, que desarticulou a facção Família do Norte, no Amazonas.
Essas mudanças também estão gerando disputas internas, especialmente pela chefia da superintendência do Rio de Janeiro. Flávio Albergaria, superintendente da Bahia, é um dos cotados para o cargo, enquanto o PT fluminense tenta emplacar o nome do delegado Carlos Henrique de Oliveira.
Além das movimentações internas, a troca de delegados por postos no exterior é vista como um prêmio dentro da PF. As nomeações, que são feitas por Andrei Rodrigues, têm como alvo delegados que ocuparam posições de relevância, principalmente em investigações de grande porte.
Essas mudanças, que refletem a dinâmica política e institucional da PF, prometem influenciar o direcionamento das investigações e os futuros desdobramentos políticos no Brasil.