Entre os investigados, está o ex-CEO da empresa, que não chegou a ser preso por estar em um viagem ao exterior
A Polícia Federal cumpriu mandados de prisão e de busca e apreensão em endereços ligados a gestores da Americanas S/A no Rio de Janeiro nesta quinta-feira (27). A ação faz parte de uma investigação conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público Federal no Rio de Janeiro (Gaeco/MPF/RJ). Dois mandados de prisão foram autorizados pela Justiça Federal, mas não puderam ser executados, pois os alvos estão no exterior. Miguel Gutierrez, ex-CEO, e Anna Christina Ramos Saicali, uma de suas diretoras, já são considerados foragidos pelas autoridades, entre elas, a Interpol.
Os agentes da Polícia Federal cumpriram 15 mandados de busca e apreensão contra outros ex-executivos do grupo, ao mesmo tempo em que a 10ª Vara Federal Criminal determinou o bloqueio de meio bilhão de reais em bens dos envolvidos.
Miguel Gutierrez e Anna Christina Ramos Saicali não foram encontrados pelos agentes e estão na Difusão Vermelha da Interpol, a lista dos mais procurados do mundo.
A investigação teve início quando a Americanas S/A comunicou ao mercado, em janeiro de 2023, inconsistências contábeis e um rombo patrimonial estimado inicialmente em R$ 20 bilhões. Paralelamente, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) comunicou o caso ao Ministério Público Federal (MPF), que acionou a Polícia Federal para iniciar as apurações.
A fraude, que está sob investigação, envolveu a manipulação dos resultados financeiros das Americanas, com o objetivo de criar uma falsa impressão de aumento de caixa. Isso, por sua vez, resultou na valorização artificial das ações da empresa na bolsa de valores. Segundo as investigações, os executivos investigados tiraram proveito da prática e receberem bônus de desempenho, ao lucrarem com a venda das ações inflacionadas no mercado financeiro.
Inconsistências financeiras
Dirigentes da empresa manifestaram interesse em colaborar com as investigações, o que resultou na formalização de um acordo de colaboração premiada. O comitê externo da Americanas, criado para apurar os fatos, forneceu parte das informações para as diligências. As perícias, as análises de materiais e os depoimentos de envolvidos foram conduzidos para aprofundar as investigações.
Em junho de 2023, a Americanas S/A oficialmente divulgou ao mercado novas inconsistências nas demonstrações financeiras, reforçando as suspeitas de fraude contábil. A operação, denominada “Disclosure” pela Polícia Federal, visa garantir a transparência nas empresas de capital aberto. Investigando crimes como manipulação de mercado e uso de informação privilegiada, a Gaeco, em colaboração com a Polícia Federal, assumiu a responsabilidade do caso.