Valdemar Costa Neto atribui dificuldades à falta de apoio do governo e à resistência de Bolsonaro em pedir doações, mas aposta em contribuições para cobrir os custos das campanhas restantes
O presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, revelou que o partido já esgotou os R$ 886 milhões recebidos do fundo eleitoral no primeiro turno das eleições municipais de outubro. Para complementar o orçamento, Costa Neto afirmou que o PL recorreu a mais de R$ 50 milhões do fundo partidário, elevando o total de gastos para quase R$ 950 milhões.
“Vamos ter muita dificuldade com dinheiro no segundo turno”, disse Valdemar, apontando para a necessidade de novas estratégias para manter a campanha.
Segundo o dirigente, o PL enfrenta desafios financeiros maiores em comparação a partidos como o PSD, uma vez que a legenda não faz parte da base do governo Lula (PT). Além disso, o ex-presidente Jair Bolsonaro tem resistido a pedir contribuições financeiras aos seus apoiadores, o que limita a arrecadação do partido. Valdemar mencionou que não solicitou diretamente ajuda a Bolsonaro por temer que, mesmo com o pedido do ex-presidente, a arrecadação continuasse baixa.
Apesar disso, Valdemar ainda vê uma oportunidade de cobrir as despesas do segundo turno com doações, argumentando que a disputa mais restrita entre duas candidaturas facilita a captação de recursos.
Fundo eleitoral bilionário e a divisão entre os partidos
O Fundo Eleitoral, aprovado pelo Congresso, chegou a R$ 5 bilhões para as eleições municipais de 2024. As maiores parcelas ficaram com o PL, de Bolsonaro, e o PT, do presidente Lula, em uma divisão proporcional ao desempenho dos partidos nas eleições de 2022. O PL recebeu R$ 886 milhões, enquanto o PT, em federação com PCdoB e PV, ficou com R$ 721 milhões. Somados, PL, PT e União Brasil – terceiro partido com maior verba, R$ 537 milhões – detêm mais de 40% do total do fundo.
Até 2015, o financiamento de campanhas dependia fortemente de grandes empresas, como bancos e empreiteiras. No entanto, o Supremo Tribunal Federal proibiu doações empresariais, argumentando que o poder econômico interferia no equilíbrio democrático. Em resposta, a partir das eleições de 2018, foi instituído o fundo eleitoral, financiado com recursos públicos.
Em 2020, o fundo eleitoral para as eleições municipais foi de R$ 2 bilhões. Para 2024, a equipe econômica havia proposto uma correção desse valor, mas, após pressões de deputados e senadores, o montante foi dobrado, com correção inflacionária, e aprovado pelo Congresso, com sanção do presidente Lula.
Além do fundo eleitoral, os partidos também têm à disposição R$ 1,24 bilhão do fundo partidário para financiar suas campanhas.
Financiamento das campanhas da família Bolsonaro
Parte significativa dos recursos do PL foi destinada às campanhas dos filhos de Jair Bolsonaro. Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro e candidato à reeleição, recebeu R$ 1,8 milhão do partido, valor que corresponde a 89% do limite de gastos permitido. Jair Renan Bolsonaro, candidato a vereador em Balneário Camboriú (SC), recebeu R$ 135,1 mil, cerca de 91% do limite de arrecadação. Renato Bolsonaro, irmão do ex-presidente e candidato a prefeito em Registro (SP), foi contemplado com R$ 391,6 mil, também 89% do limite permitido.
Mesmo com os elevados gastos no primeiro turno, o presidente do PL aposta em uma melhora na arrecadação para o segundo turno, especialmente com o foco nas doações para as campanhas.