Os contratos fraudulentos investigados pela Operação Overclean envolvem diretamente recursos que deveriam financiar obras e serviços essenciais
Uma semana antes da deflagração oficial da Operação Overclean, nesta terça-feira (10), agentes da Polícia Federal (PF) flagraram, em Brasília, uma tentativa escancarada de pagamento de propina no valor de R$ 1,5 milhão.
O dinheiro foi transportado em um jatinho Learjet, que partiu de Salvador (BA) rumo à capital federal, em mais um episódio que escancara o cinismo e a ousadia das práticas ilícitas no Brasil.
Agentes da PF seguiram os passos do empresário Alex Rezende Parente e de Lucas Lobão, ex-coordenador do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) na Bahia, desde o hangar em Salvador até o desembarque em Brasília. Foi neste ponto que os policiais interceptaram e apreenderam os R$ 1.538.700 em espécie.
Um esquema de corrupção sistêmica
A Operação Overclean, coordenada pela Controladoria-Geral da União (CGU), Polícia Federal, Ministério Público Federal (MPF) e Receita Federal, com apoio da Homeland Security Investigations (HSI), busca desmantelar uma organização criminosa que fraudou licitações, desviou recursos públicos e praticou lavagem de dinheiro.
Os principais alvos são políticos e empresários que, segundo as investigações, movimentaram R$ 1,4 bilhão em desvios de contratos de engenharia e emendas parlamentares, afetando diretamente o Dnocs e outros órgãos públicos.
Entre os envolvidos está José Marcos Moura, conhecido como “Rei do Lixo” por monopolizar contratos de limpeza urbana na Bahia. Moura foi preso durante a operação e é apontado como o organizador do voo que transportou a propina.
Na aeronave, um Learjet 60XR, modelo de luxo fabricado em 2008 e registrado em nome da empresa Atlântico Transportes LTDA, de Salvador, os agentes também encontraram uma planilha com detalhes suspeitos de contratos no valor de mais de R$ 200 milhões.
A planilha, segundo a PF, fazia referência a contratos nos estados do Rio de Janeiro e Amapá e incluía a sigla “MM”, interpretada como uma possível menção a Marcos Moura.
Luxo e cinismo no crime organizado
O uso de um jatinho particular para transportar propina não só evidencia o alcance do esquema como também a audácia dos envolvidos. Em um país onde recursos públicos são destinados a atender populações vulneráveis, é revoltante constatar que o mesmo dinheiro é desviado para encher malas de luxo e sustentar uma elite corrupta.
Os contratos fraudulentos investigados pela Operação Overclean envolvem diretamente recursos que deveriam financiar obras e serviços essenciais, em especial no combalido Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs).
A entidade, fundamental para o combate aos efeitos da seca no Nordeste, há tempos é alvo de críticas pela ineficiência e pelos escândalos de corrupção que drenam seus cofres.