Investigação revela esquema de grilagem, fraudes cartoriais e corrupção envolvendo terras milionárias no DF, com impactos no Parque Nacional de Brasília.
Por Mino Pedrosa
No 2º Distrito Policial de Brasília, sob rigoroso sigilo, encontra-se um explosivo inquérito envolvendo Marcelo Perboni, uma das maiores figuras do ramo hortifrúti no Brasil. Apontado pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) como o proprietário do maior “laranjal” já registrado no DF, Perboni mantém fortes laços com as esferas mais altas do poder político local.
Sua esposa, Daniela Perboni, sobrinha do ex-deputado federal e grande atacadista Tatico, desempenha um papel decisivo nas articulações políticas locais e nacionais. Movida por ciúmes, Daniela contratou um policial para investigar supostas traições de Marcelo, sem saber que ele já era alvo de uma investigação oficial. Um rastreador instalado no veículo de Perboni revelou não apenas documentos incriminadores, mas também uma boa quantidade de dinheiro em espécie escondida no porta-malas.
Ao descobrir o esquema fraudulento, Daniela expulsou os seguranças da mansão do casal, todos funcionários de empresas ligadas ao marido. Após uma disputa que chegou à delegacia, ela denunciou Marcelo, entregando documentos que desencadearam um efeito devastador: contratos fraudulentos na compra de terras e esquemas de grilagem envolvendo a Terracap, especialmente na região do Caub.
Entre as irregularidades, destaca-se a escritura fraudulenta da Fazenda Brejo ou Torto, localizada em uma área milionária conhecida como “Picanha”, no Lago Norte. Com mais de 69 hectares, o terreno tem um Valor Geral de Vendas (VGV) estimado em mais de R$ 1 bilhão. A documentação apresentada revela uma complexa rede de fraudes envolvendo o contador Helvio Monteiro Guimarães, o escrivão Carlos Lima e o próprio Perboni, por meio da empresa M8 (doc abaixo) de propriedade de Marcelo Perboni e representada por Helvio.
A origem das disputas remonta ao antigo proprietário, Francisco Coelho de Carvalho Filho, que enfrentou uma série de golpes para proteger seu patrimônio. Após anular uma venda fraudulenta, Francisco teve de lidar com tentativas de usurpação coordenadas por lobistas e corretores, incluindo registros fraudulentos nos cartórios do DF e do Piauí e Goiás.
Mesmo após revogar procurações, novos documentos ilegítimos surgiram, evidenciando um sofisticado esquema de grilagem.
Além disso, figuras como Roberto Cortopassi e João Augusto Martins Telles (abaixo), envolvidos em negociações obscuras, prometeram resolver a situação apenas para apresentar escrituras fictícias e adiar soluções.
O imbróglio judicial, ainda sob sigilo, expõe falhas nos sistemas de registro e um conluio entre agentes privados e cartoriais que facilitam fraudes milionárias.
A área em disputa, localizada no Parque Nacional de Brasília, sofre com tentativas de grilagem desde 1997, quando a TEKA Tecelagem adquiriu a propriedade e, posteriormente, buscou deslocá-la para regiões nobres de Brasília. Em 2023, a situação se agravou com duas escrituras conflitantes que transferiram a área para empresas distintas, ambas envolvidas em transações fraudulentas.
Na manhã de terça-feira, 19 de novembro, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) deflagrou a Operação Pantsir, desvendando uma organização criminosa envolvida em parcelamento ilegal do solo. Foram cumpridos 17 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal, Goiás e Minas Gerais, em uma ofensiva que também revelou crimes de estelionato, extorsão, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e infrações contra relações de consumo. Esses crimes estão diretamente ligados à área da Fazenda Brejo ou Torto, que pertence à Terracap e foi anunciada como o futuro Condomínio Tomahawk, depois rebatizado como Jardins do Lago Norte.
A Justiça determinou ainda a suspensão das atividades das empresas envolvidas e proibiu a cobrança de taxas condominiais. A operação contou com o apoio do Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado da Polícia Civil do DF, além do Gaeco de Goiás e Minas Gerais.
Esse escândalo, marcado por fraudes, grilagens e crimes financeiros, não apenas ameaça o Parque Nacional de Brasília como expõe um esquema organizado que coloca em xeque a segurança jurídica da capital federal. As investigações seguem em curso, com promessas de responsabilização dos envolvidos e a esperança de preservar um patrimônio que é de todos.