Em Goiás, cansada de ser usada por aventureiros, a IQUEGO volta a ser saqueada por grupos nada republicanos
Por Mino Pedrosa
Em tempos de São João, as quadrilhas dançam em Goiás com uma plateia focada nos movimentos velados que só o Ministério Público Federal e a Polícia Federal conseguem enxergar e acompanhar. O curioso é que participam da farra políticos renomados, grupos empresariais e até representantes de falsas empresas, vindos até da China.
Com o objetivo de produzir medicamentos para atender o SUS (Sistema Único de Saúde), a IQUEGO (Indústria Química do Estado de Goiás) – sociedade anônima de economia mista – homologou em abril de 2022 um vexaminoso contrato de parceria público-privada com o consórcio Medxamano Brasil Biological Technology Ltda, representado pelas empresas Xamano Brasil Biological Technology Ltda e a Four Med Importação.
O compromisso era de investirem R$ 28 milhões nas proximidades da capital goiana com um projeto considerado por técnicos do Governo do Goiás como “espetacular”. A beleza da dança prometida pela quadrilha, porém, não passou de uma escandalosa mentira que drena os cofres públicos do governo sob a batuta de Ronaldo Caiado.
O MPF já percebeu que a Xamano Biotech, que deveria realizar os aportes financeiros e tecnológicos para o investimento prometido, passou a postergar sucessivamente os seus compromissos com a IQUEGO, mas que acabou lucrando milhões com a fraude processual.
Representados no Brasil por Leonardo Lee, os empresários Wang Wei e Liu Shengya transitam pelo país se vangloriando de serem responsáveis pelas “maiores fabricantes de medicamentos da Ásia”, que seriam as companhias Xamano Biotech, Medvacca e Harpia Medical, mas escondem o fato de as supostas multinacionais serem empresas de fachada, criadas na China em 2021, mas com sedes em escritórios virtuais.
A outra empresa que descumpre contrato com a IQUEGO, a Four Med Importação é representada pelo contador Júlio Cézar de Jesus, que já tentou ser deputado distrital duas vezes pelo PP-DF, sem êxito, e que mantém a sede da companhia como sendo a de seu próprio escritório de contabilidade, o que evidencia que a Four Med não possui uma única fábrica no país.
A fraude em colaboração com políticos e servidores do governo Caiado tem sido mapeada pelo Ministério Público Federal que também, em sigilo, busca evitar influências do grupo no Ministério Público do Goiás.
Documentos obtidos com exclusividade pelo portal Fatos Online mostra a cadeia de mentiras e falsificações cometida pelo grupo empresarial contra as contas públicas do estado. O curioso é ver a IQUEGO, que produz remédios para o âmbito federal, estadual e municipal e que declarou falência em 2016 após se atolar em dívidas, ter aceitado fechar contratos milionários com empresas de fachada.
Vale lembrar também que, ao assumir o governo em 2019, a gestão Caiado passa a aparelhar a IQUEGO, transformando a companhia em ponto de cabos eleitorais. No começo do governo, Denes Pereira Alves, na época então presidente estadual do PRTB e atual representante do Solidariedade em âmbito local, chegou a ser nomeado com a promessa de incentivar justamente as parcerias público-privadas.
Com uma expansão dos negócios, os chineses voaram de Goiás e aterrissaram em Campinas onde abriram um braço da empresa e se infiltraram na Unicamp.
Segundo fontes da PF, essa rocambolesca história é recheada com documentos falsos, desvio de recursos e pode até contar com o crime de evasão de divisas.
Outros caminhos
Outros contratos firmados pela IQUEGO também entraram na mira das autoridades federais que já acompanham a atuação de outros bandos de sanguessugas que focam na entrega de insumos e medicamentos ao SUS em âmbito nacional.
Com uma nova parceria duvidosa, mas que já foi firmada, a companhia do estado de Goiás contratou a Golden CBD+ Nanotech Ltda, “representante comercial” da GC HEALTH EXPORT LLC, ambas criadas em 2020 pelos mesmos sócios, para fornecer produtos à base de cannabis medicinal ao SUS. Os insumos, contudo, ainda não foram regularizados pela ANVISA, o que impede que possam ser comercializados.
Os investidores que parecem ter ludibriado a IQUEGO são próximos ao deputado estadual Lincoln Tejota (União Brasil), vice-governador na primeira gestão de Ronaldo Caiado.
O problema maior, porém, é que, em um e-mail obtido pela reportagem, o governo dos EUA garante que a GC HEALTH EXPORT LLC não possui “um único pé de cannabis plantado”, já que se trata de uma representante comercial registrada na Flórida.
A consulta feita ao FDA, agência regulatória de medicamento norte-americana, mostra que a GC HEALTH também não possui um único produto registrado, apesar da companhia incluir o logo do FDA em seu portal oficial.
Como não podia faltar nos festejos juninos, aqueles que são representados pela pamonha, o pé-de-moleque com os seus rastros, e o angu de caroço, deverão receber o tão aguardado desfecho pelo MPF e pela PF para a queima de fogos enquadrando aqueles que não dançaram conforme a música.
Confira a documentação;
