No meio desse impasse, Haddad tenta se eximir de responsabilidade, reiterando que a decisão de cortar gastos não é sua, mas do governo
As propostas de mudanças no seguro-desemprego e no abono salarial (PIS/Pasep) se tornaram um ponto de intenso conflito entre ministros do governo durante as discussões sobre o corte de gastos que dominam as reuniões desta semana.
O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, que inicialmente se queixou de não ter sido incluído nas conversas sobre os ajustes em direitos trabalhistas, ameaçou até mesmo pedir demissão do cargo.
Ele foi então convocado para uma reunião de emergência no Planalto com membros da Junta de Execução Orçamentária (JEO) e com o presidente Lula. Durante o encontro, que durou cerca de duas horas na terça-feira (5), Marinho teria adotado um tom firme ao confrontar o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Após o encontro, Marinho declarou que ainda não havia uma decisão final sobre os ajustes, com os técnicos continuando os cálculos. No entanto, a insatisfação com as propostas não cessou, e o ministro retornou ao Palácio na quinta-feira (7) para mais discussões.
Ele segue com o apoio das centrais sindicais, que rejeitam qualquer alteração nos direitos trabalhistas. As entidades enviaram um ofício ao Planalto pedindo uma audiência urgente com o presidente, alertando sobre os impactos que o ajuste fiscal pode ter nas políticas de proteção aos trabalhadores. A carta, assinada por representações como CUT, Força Sindical, UGT, CTB, NCST e CSB, é um claro sinal de oposição a mudanças que afetem diretamente a classe trabalhadora.
Além disso, os ministros da Saúde, Nisia Trindade, e da Educação, Camilo Santana, também se mostram resistentes a mudanças nos pisos constitucionais de suas áreas, incluindo o Fundeb (Fundo da Educação Básica).
No meio desse impasse, Haddad tenta se eximir de responsabilidade, reiterando que a decisão de cortar gastos não é sua, mas do governo. Segundo ele, seu papel foi garantir a aprovação do arcabouço fiscal, mas, com o crescimento acelerado das despesas obrigatórias, o governo terá dificuldades para cumprir as regras fiscais em 2025.
Em suas reuniões, Haddad alerta que, se não forem feitas mudanças, o governo será forçado a cortar despesas discricionárias, o que pode paralisar setores essenciais. O descontentamento também se estende ao ministro do Desenvolvimento Social (MDS), Wellington Dias, e à pasta da Previdência, comandada por Carlos Lupi, que foram cobrados por uma meta de economia para o próximo ano, que inclui um pente-fino nas revisões cadastrais e no Atestmed.