Metrô-DF: o empresário maquinista

Nesta terça-feira, a saída da “Garota do Pix” do Metrô-DF evidenciou a força do político Paulo Octávio e escancarou as ambições do empresário em avançar sobre a coisa pública

Por Mino Pedrosa

O Metrô do Distrito Federal tem dono, e não é a população. O megaempresário Paulo Octávio Alves Pereira, mais conhecido como P.O., ocupa nada menos do que a presidência e quatro das cinco diretorias que compõem a Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô-DF).

O empresário, que construiu sua carreira com a ajuda do dinheiro público, hoje negocia na política o apoio aos governos, consolidando sua influência em vários setores da administração pública. Recentemente, o escândalo envolvendo aluguéis superfaturados de prédios ocupados por algumas secretarias do GDF e órgãos federais ganhou visibilidade na mídia.

O escândalo na área da saúde culminou em operações de busca e apreensão em seus endereços, expondo o tráfico de influência ora exercido pelo empresário, ora pelo político, numa mistura que sempre busca drenar, de maneira sorrateira, os cofres públicos.

No Metrô-DF, curiosamente, o presidente da diretoria colegiada, Handerson Cabral Ribeiro, veio da presidência da Valec, órgão federal ligado ao Ministério da Infraestrutura. O que chama atenção são os estreitos laços entre o servidor e o empresário. Na Valec, o prédio da companhia no Setor Comercial Sul é de propriedade de Paulo Octávio.

Foto: Divulgação Metrô-DF

 

O fatiamento do Metrô-DF revela que o empresário leva vantagem sobre o político, pois apenas o Secretário de Turismo do DF, Cristiano Araújo, apelidado de “anão de jardim”, tenta fazer sombra ao “Merenda”, apelido dado a Paulo Octávio desde os tempos de escola.

Nesta terça-feira (20), o “vagão” de Cristiano Araújo descarrilhou, e uma onda de exonerações levou sua diretoria para o “pátio de manutenção”. O descarrilamento fez com que Jessica Pinheiro, conhecida como “garota do PIX”, fosse ejetada da companhia, juntamente com o irmão do delegado e ex-deputado Fernando Fernandes, que apadrinhava o casal, mantendo-os empregados mesmo após o escândalo que resultou na queda do então diretor-geral da Polícia Civil do DF (PCDF), Robson Cândido.

Para quem não sabe, P.O. vinha há muito tempo tentando derrubar o casal polêmico das dependências do Metrô. Agora, com força renovada, já prepara o golpe para tomar a diretoria de Araújo e ficar com a empresa de porteira fechada. Paulo Octávio atua fortemente nos bastidores, alimentando o comando das repartições ora como político, ora como empresário.

Recentemente, na aprovação do Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUB), o político Paulo Octávio ajudou o empresário P.O. contra os concorrentes do setor imobiliário e hoteleiro. Ele atuou na aprovação de construções de apartamentos para apart-hotéis na beira do Lago Paranoá, em área nobre de valor milionário, e também conseguiu impedir que empresários concorrentes se modernizassem nos setores hoteleiros Norte e Sul.

Diante de tamanha força, o empresário ainda preside a LIDE, grupo de lideranças empresariais do DF, e continua crescendo com dinheiro público, enquanto se beneficia no privado.


Voltando aos trilhos do Metrô-DF no túnel do tempo, vale lembrar que “Merenda” foi vice na gestão de José Roberto Arruda e responsável pela chegada do Metrô em Brasília. Ainda cabe recordar que, no processo da Caixa de Pandora, o Metrô-DF foi alvo de uma investigação da Polícia Federal e do Ministério Público, que por pouco não flagrou o então governador Arruda recebendo dinheiro de uma empresa construtora no Rio de Janeiro. A PF monitorava a viagem que Arruda faria para atuar no flagrante, mas, na véspera, um vazamento da operação salvou a dupla que comandava a capital federal à época.

Mino Pedrosa

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