Mesmo sob várias acusações e provas de práticas proibidas pela Justiça Eleitoral, o candidato segue com a candidatura ilesa e continua a atacar os adversários
A atuação do candidato e ex-coach Pablo Marçal (PRTB) está provocando um embate com a Justiça Eleitoral. Suas ações têm levantado questões sobre a equidade na disputa eleitoral, sobretudo, devido às evidências de que Marçal estaria fazendo uso da influência nas redes sociais e dos próprios recursos para atacar outros candidatos. A prática é proibida por lei, mas, até agora, nada foi feito a respeito, e a Justiça já até negou um pedido liminar para impugnar a candidatura do candidato a prefeito de São Paulo.
O caso mais relevante até agora envolveu Marçal fazendo insinuações infundadas sobre o uso de drogas por Guilherme Boulos (PSOL). Como resultado, Marçal enfrenta decisões de primeira instância que ordenam a remoção de conteúdos de suas contas e a concessão de direito de resposta a Boulos. Apesar das ordens judiciais e da abertura de uma investigação policial, Marçal continua a propagar as alegações em eventos e nas redes sociais.
A postura agressiva de Marçal, que inclui ofensas pessoais e provocações amplamente exploradas em suas redes sociais, levou alguns adversários a desistirem de debates e motivou o prefeito Ricardo Nunes (MDB) a criticar a Justiça Eleitoral por ser “lenta”. Nunes sugeriu, após a desistência de Boulos e José Luiz Datena (PSDB) do evento promovido pela revista Veja, que representantes da Justiça Eleitoral deveriam estar presentes em debates.
A conduta de Marçal nas redes sociais também levantou preocupações sobre a forma como as informações são divulgadas. O Ministério Público Eleitoral solicitou a abertura de uma ação de investigação judicial eleitoral contra o candidato, alegando abuso de poder econômico relacionado à disseminação de vídeos editados nas redes sociais.
Os promotores acusam Marçal de ter seus vídeos cortados e divulgados por terceiros em troca de ganhos financeiros, o que é proibido pelas regras eleitorais. Marçal negou que haja qualquer financiamento por trás dessas ações.
Em campanhas anteriores, o direito de resposta era frequentemente solicitado em propaganda eleitoral na rádio e na TV, que neste ano só começará no dia 30. No caso envolvendo Boulos, Marçal afirmou em uma convenção que revelaria em debate que dois concorrentes eram “usuários de cocaína”. No primeiro debate, Marçal fez gestos sugestivos e posteriormente replicou os gestos nas redes sociais, chamando Boulos de “aspirador de pó”.
A defesa de Marçal argumenta que não houve ofensa direta a Boulos, que o termo “cocaína” não foi utilizado e que os gestos eram apenas uma “crítica política”. Eles afirmam também que não houve abuso da liberdade de expressão.
O Ministério Público Eleitoral considera que as postagens e gestos de Marçal têm a clara intenção de sugerir que Boulos é usuário de cocaína, mesmo sem comprovação. O juiz de primeira instância que concedeu o direito de resposta a Boulos afirmou que as postagens de Marçal visam imputar a Boulos a condição de viciado em entorpecentes sem evidências, mesmo que indiciárias.
Além disso, foi autorizada a abertura de um inquérito policial para investigar a possível divulgação de informações falsas que podem influenciar o eleitorado, com penas que vão de dois meses a um ano de detenção ou multa. No entanto, as medidas ainda não conseguiram coibir o comportamento de Marçal.
Desde a primeira decisão de remoção em 9 de agosto, Marçal continuou a usar termos como “aspirador de pó” e a alterar a composição de seus vídeos. Em uma nova representação apresentada na segunda-feira (19), Boulos solicitou a remoção de mais postagens no Instagram, X (antigo Twitter) e TikTok, além de uma multa de R$ 30 mil para Marçal, o valor máximo permitido. Boulos também pediu que o juiz advirta Marçal sobre a possibilidade de outras penalidades, incluindo a suspensão de seus perfis em caso de reincidência.
No início da campanha oficial para a prefeitura de São Paulo, Marçal realizou uma caminhada na Cidade Tiradentes. Palestrante motivacional e formado em direito, Marçal também se apresenta nas redes sociais como investidor e escritor. Em 2022, ele se lançou como pré-candidato à Presidência pelo Pros, apoiado pela antiga direção do partido, que foi acusada de tentar influenciar decisões judiciais, algo que ele negou.
Propaganda negativa
Marçal tem incentivado os apoiadores não só para promover vídeos de campanha nas redes sociais, mas também para veicular conteúdo negativo contra Boulos. De acordo com uma investigação do Intercept Brasil, Marçal premiou vídeos com críticas a Boulos.
Na teoria, o uso dos vídeos pagos deveria agravar a situação de Marçal, que já está sendo investigado pelo Ministério Público Eleitoral. Na segunda-feira (19), o MPE solicitou a cassação do registro de Marçal, alegando abuso de poder econômico no esquema conhecido como “Cortes do Marçal”.
O esquema prevê que Marçal ofereça prêmios de até R$ 70 mil para apoiadores que publicarem vídeos com maior número de visualizações durante a pré-campanha. A competição inclui plataformas como Instagram, TikTok e YouTube, e a contagem de visualizações é feita de forma rigorosa para determinar os vencedores. Agora o que resta é esperar a reposta da Justiça Eleitoral sobre o caso.