Além de Lula, entidades têm criticado a ineficiência das medidas reparatórias financiadas pela mineradora
Em cerimônia realizada na quarta-feira (19), durante a posse de Magda Chambriard na presidência da Petrobras, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez críticas contundentes às privatizações de grandes empresas do país. Em seu discurso, Lula mencionou diretamente a Eletrobras e a Vale, destacando que ambas poderiam estar atuando como importantes indutores da economia brasileira, ao lado da Petrobras.
Lula lembrou que a Vale foi privatizada em 1997, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, em um processo que envolveu a venda de ações para um grupo de empresas privadas e fundos de pensão. Ele mencionou o rompimento das barragens de Mariana, em 2015, e de Brumadinho, em 2019, que resultaram em perdas humanas significativas e danos ambientais extensos. Ao criticar as privatizações, o ex-presidente lembrou que o Estado poderia ter controle da Eletrobras, empresa que foi privatizada em 2022, reduzindo a participação da União para menos de 50%. Ele ainda criticou a falta de um interlocutor claro para conversar sobre as questões.
Tragédias
Lula mencionou as dificuldades enfrentadas nas negociações para reparação dos danos causados pelas tragédias. Em específico, ele criticou o modelo implementado pela Fundação Renova, entidade criada após a tragédia em Mariana, de novembro de 2015, para gerir as medidas reparatórias. A fundação tem sido alvo de críticas por parte de diversas entidades e autoridades.
As tratativas para revisão do acordo de reparação se arrastam há mais de dois anos, com propostas da mineradora consideradas insuficientes pelos governos federal, de Minas Gerais e do Espírito Santo. A última oferta da empresa envolve a transferência de R$ 82 bilhões aos governos em um período de 20 anos, além de medidas adicionais custeadas diretamente pelas mineradoras. Por outro lado, a União e os estados de Minas Gerais e do Espírito Santo pediram, em sua última manifestação no processo, o pagamento de R$ 109 bilhões, com depósitos ao longo de 12 anos. Além disso, há mais de 85 mil processos em tramitação, entre ações civis públicas, ações coletivas e individuais.
Lula encerrou seu discurso com uma reflexão sobre a responsabilidade corporativa e social das grandes empresas.
“Quando eu digo que não há dono para conversar é porque, desde os desastres das barragens de Mariana e de Brumadinho, não foi paga a indenização daquele povo. Eles estão esperando casas e o ressarcimento do estrago. Uma empresa boa e grande precisa ter alguém responsável para que as coisas possam funcionar corretamente. Minha mãe dizia que cachorro com muito dono morre de fome porque todo mundo pensa que o outro deu comida e no final ninguém dá comida pra ele. Então uma empresa onde ninguém manda, muitas vezes, não cumpre aquele papel social que é importante cumprir”, disse o presidente.