Por Mino Pedrosa
O homem que abriu a caixa de pandora, se tornando o primeiro criminoso aliviado pela Justiça após revelar o maior escândalo de corrupção já presenciado em Brasília, está com a vida por um fio. Durval Barbosa, o delator, que registrou em áudio e vídeo políticos e empresários se locupletando com dinheiro público, teve sua hospitalização comemorada nos bastidores pelos alvos por ele delatado à Justiça.
No momento em que atuou como delator, após fechar acordo com o Ministério Público Federal, o coração de Durval Barbosa disparava com medo da morte, mesmo andando cercado de seguranças armados posteriormente escolhidos por ele. Hoje, com a notícia de que José Roberto Arruda e Paulo Octávio voltam ao cenário político, por alguns instantes, o coração de Durval parou provocando um AVC e o levando à UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do luxuoso hospital DF Star.
Nesta quinta-feira (18), a junta médica que atende Durval se reuniu a fim de decidir não divulgar o estado clínico do paciente, que se agravou estendendo o problema de saúde aos rins.
Durante décadas, o delator foi o responsável por amealhar bilhões de recursos retirados dos cofres públicos para pagamento de propina a políticos, empresários e servidores do governo.
Com uma estrela de xerife no peito, o delegado de polícia ocupou as principais delegacias concentrando os grandes escândalos policiais envolvendo autoridades públicas e privadas, onde acabou se corrompendo em busca de mais poder.
Extremamente vaidoso, ao ponto de não se contentar com as dezenas de cirurgias plásticas, ganhando o apelido nos bastidores de Elza Soares, Barbosa iniciou sua trajetória junto a políticos no governo de Joaquim Roriz.
Na época, o agora internado foi figura central na arrecadação de propina tendo como base a Codeplan, órgão que é responsável pelo mapeamento de todo o fluxo financeiro do DF.
A partir daí, o criminoso estabeleceu um mensalão para os políticos, retirando um percentual de fornecedores e empresários que tinham contratos junto ao Governo do Distrito Federal por décadas, para garantir apoio político e financeiro aos governantes.
Só que o know how adquirido por Durval Barbosa serviu como experiência para auxiliar na deflagração da maior operação policial, que revelou o maior escândalo de corrupção já visto na capital federal, culminando nas prisões de José Roberto Arruda e de seu secretário de Comunicação à época, Wellington Morais, vulgo Baiano.
Coincidência ou não, quando o ex-governador conseguiu o direito, por meio de uma liminar monocrática, para então disputar o Governo do Distrito Federal, o delator sofreu o baque com um infarto seguido de um AVC.
Hoje, voltam ao cenário político os algozes que foram alvos das gravações incriminadoras feitas por Durval. Arruda e Paulo Octávio estão livres, leves e soltos em busca de novos mandatos eletivos com cara de paisagem como se nada tivesse acontecido e sido revelado.
A toalha jogada por Durval, porém, o fez desacreditar na Justiça, já que é certo que, ao retornarem ao poder, Arruda e Paulo Octávio dificilmente mudarão o modus operandi.
Na manhã desta quinta-feira, Paulo Octávio convocou uma reunião de campanha apresentando o novo coordenador-geral, o também pandorista Fábio Simão, responsável por iniciar a debandada de Arruda e de políticos da chapa do atual governador Ibaneis Rocha.
Com a morte a qualquer momento ou com futuras sequelas, o estado de saúde de Durval pode permitir que o eterno delator não tome conhecimento do trâmite jurídico que pode trazer de volta os direitos políticos de seu principal algoz, Arruda.
Outra questão sob suspense é a ocultação milionária de recursos que Durval escondeu da Justiça no seu acordo de delação premiada. Há quem diga que o dinheiro está no exterior em paraísos fiscais. Mas com quem estará as senhas dos cofres milionários na passagem de Durval?