Advogados informavam falsamente a existência de acordos extrajudiciais, que eram homologados pelos juízes, para o bloqueio e a posterior liberação dos valores
Magistrados e advogados do Espírito Santo estão sendo investigados pelo Ministério Público do Estado (MPES) por supostamente integrarem uma organização criminosa dedicada a fraudar espólios de pessoas falecidas sem herdeiros. A operação, denominada “Follow the Money,” foi deflagrada na última quinta-feira (1º) e investiga possíveis crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, além de falsificação de documentos.
De acordo com o MPES, o grupo suspeito atuava principalmente na Comarca de Barra de São Francisco, onde desenvolveu um esquema meticulosamente organizado para se apropriar dos bens de pessoas falecidas que possuíam valores significativos em contas bancárias ou imóveis, mas não tinham herdeiros legais. Os suspeitos ajuizavam ações fraudulentas, utilizando documentos falsificados, como contratos de compra e venda ou confissões de dívida, para legitimar pedidos de bloqueio e posterior liberação dos valores.
A operação cumpriu mandados de prisão e busca e apreensão em várias cidades, incluindo Vitória, Vila Velha, Serra e Barra de São Francisco, além dos estados do Rio de Janeiro e Paraíba. Até o momento, 34 pessoas foram identificadas como envolvidas, incluindo dois juízes: Bruno Fritoli Almeida e Maurício Camatta Rangel. Fritoli foi preso, enquanto Camatta está sob monitoramento eletrônico.
O esquema envolvia a apresentação de processos com erros propositais que, se não fossem direcionados aos juízes cúmplices, eram extintos sem resolução. No entanto, se as ações caíssem nas mãos dos magistrados envolvidos, as falhas eram corrigidas, permitindo que os processos fraudulentos avançassem. Em vários casos, advogados informavam falsamente a existência de acordos extrajudiciais, que eram rapidamente homologados pelos juízes, facilitando o bloqueio e a posterior liberação dos valores.
Respostas
A Associação dos Magistrados do Espírito Santo (Amages) emitiu uma nota reafirmando o compromisso com a transparência e o devido processo legal, A entidade destacou ainda que todos os magistrados têm o direito de apresentar a defesa. A OAB-ES também se pronunciou e afirmou que está acompanhando o caso e tomando as providências necessárias.
A defesa do juiz Bruno Fritoli alegou que ele sempre atuou com integridade e responsabilidade durante a carreira no Judiciário, e que utilizará todos os meios legais para provar a inocência.
As investigações continuam, e o MPES segue apurando as possíveis irregularidades e a extensão dos danos causados pelo esquema criminoso.