Documentos abrangem o período de 1966 a 2019 e foram fornecidos por diferentes agências americanas
Diversos órgãos do governo dos Estados Unidos monitoraram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), gerando ao menos 819 documentos, que totalizam 3.300 páginas de registros. As informações foram obtidas pelo jornalista e escritor Fernando Morais, biógrafo de Lula, por meio da Lei de Acesso à Informação americana (Freedom of Information Act) e foram divulgadas pelo jornal Folha de S. Paulo.
Os documentos abrangem o período de 1966 a 2019 e foram fornecidos por diferentes agências americanas. A maior parte foi produzida pela CIA. Os registros abordam a relação de Lula com a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), autoridades do Oriente Médio e da China, além de detalhes sobre planos militares brasileiros e a produção da Petrobras. Os pedidos de Morais cobrem cinco décadas, desde a ditadura militar, quando Lula ascendeu no movimento sindical, até pouco após sua prisão em 2018. No entanto, o escritor ainda não teve acesso à totalidade dos documentos, que não incluem informações sobre o atual mandato de Lula, iniciado em 2023.
Em fevereiro do ano passado, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, recebeu Lula na Casa Branca. Morais contou com a ajuda do escritório de advocacia Pogust Goodhead para requerer as informações a todas as agências dos EUA.
Morais lançou em 2021 o primeiro volume da biografia de Lula e trabalha agora no segundo volume. Ele e seus advogados solicitaram relatórios, levantamentos, emails, cartas, minutas de reuniões, registros telefônicos e outros documentos produzidos pelos órgãos de inteligência americanos. “É preciso jogar luz na relação entre os dois maiores países do continente americano”, afirmou Tom Goodhead, sócio-administrador global do Pogust Goodhead.
Até o momento, foram encontrados 613 documentos da CIA, 111 do Departamento de Estado, 49 da Agência de Inteligência da Defesa, 27 do Departamento de Defesa, 8 do Exército Sul dos Estados Unidos e 1 do Comando Cibernético do Exército. O grupo ainda aguarda retorno do FBI, da NSA e da Rede de Combate a Crimes Financeiros (FinCEN).
Morais afirmou ainda que o governo americano vetou trechos do livro “Olga”, escrito por ele e lançado em 1985, devido ao conteúdo ser considerado arriscados para a segurança do Estado.
A presidente Dilma Rousseff também chegou ser alvo de espionagem da NSA, com documentos secretos obtidos pelo jornalista Glenn Greenwald junto ao ex-técnico da agência Edward Snowden. Dois anos depois, o WikiLeaks revelou uma nova espionagem contra Dilma, assessores e ministros, com 29 telefones de membros e ex-integrantes do governo grampeados pela agência americana.
A expectativa de Morais é utilizar as informações na segunda parte da biografia de Lula, ainda sem data de lançamento.
O primeiro volume, intitulado “Lula”, já foi traduzido para chinês, inglês e espanhol. O recorte de informações começou em 1966, quando Lula ingressou como torneiro mecânico em uma fábrica no ABC Paulista e iniciou seu envolvimento com o sindicalismo, marcando seu ingresso na vida política brasileira. Lula tornou-se presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema em 1975, liderando greves três anos depois. Durante este período, ele também ajudou a fundar o PT e tornou-se o primeiro presidente do partido.