Nos bastidores de Brasília, a pressa para viabilizar a medida é vista como uma estratégia para tentar conter a queda na popularidade de Lula

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou nesta segunda-feira (17) que a ampliação da isenção do Imposto de Renda para trabalhadores que ganham até R$ 5 mil mensais custará R$ 27 bilhões aos cofres públicos. O valor é menor que a estimativa inicial de R$ 35 bilhões, e o ministro atribuiu a redução a um “recalculo”, sem entrar em detalhes concretos sobre a origem dos recursos que irão cobrir a renúncia fiscal.

A proposta, que é uma promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foi discutida em uma reunião com Haddad e deve ser apresentada oficialmente nesta terça-feira (18). Porém, o governo ainda não explicou de forma clara como compensará a perda de arrecadação. A única sinalização até agora foi dada pelo próprio Haddad no fim de 2024, ao afirmar que quem ganha acima de R$ 50 mil por mês pagará a conta.

Medida populista

Nos bastidores de Brasília, a pressa para viabilizar a medida é vista como uma estratégia para tentar conter a queda na popularidade de Lula, que enfrenta críticas devido à estagnação econômica, aumento da carga tributária e dificuldades no controle das contas públicas.

O governo quer aprovar a proposta a tempo de que a isenção passe a valer já em 2026, ano em que o presidente tentará eleger um sucessor ou até mesmo disputar um novo mandato.

A questão central, porém, continua sendo de onde sairão os recursos para bancar a isenção. O discurso de que a compensação virá da taxação dos mais ricos carece de detalhes técnicos e de garantias de que não será apenas uma jogada política para ganhar tempo.

Além disso, a proposta pode enfrentar resistência no Congresso, onde o governo precisa negociar com o Centrão, um grupo que raramente aprova medidas sem contrapartidas políticas ou financeiras.

Impacto

Atualmente, a faixa de isenção do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) está em R$ 2.824, equivalente a dois salários mínimos. O novo limite de R$ 5 mil beneficiaria cerca de 32% dos trabalhadores, segundo estimativas. Apesar disso, especialistas alertam que a mudança não resolve o problema maior da tabela do IR, que continua defasada há anos e prejudica a classe média, que acaba pagando mais imposto proporcionalmente.

A isenção prometida por Lula durante a campanha era para quem ganha até R$ 5 mil já em 2023, mas o governo não conseguiu cumprir a promessa integralmente e vem implementando ajustes graduais. Agora, com o novo anúncio, a questão passa a ser se o governo terá condições de viabilizar a medida sem comprometer ainda mais as já frágeis contas públicas.