A tentativa de Gleisi em relativizar a fala de Lula não impediu a onda de críticas, inclusive entre apoiadores do próprio governo
O presidente Lula (PT) voltou a ser alvo de críticas após uma declaração que, para muitos, revelou um machismo velado em sua abordagem política. Durante um evento na quarta-feira (12), ele justificou a nomeação de Gleisi Hoffmann para a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) afirmando que colocou “uma mulher bonita” para melhorar a relação com o Congresso.
O comentário soou como um retrocesso e pegou mal até dentro do próprio governo, mas Gleisi, em vez de questionar o presidente, correu em sua defesa.
Diante da repercussão negativa, a nova ministra minimizou a fala e tentou mudar o foco da discussão. “Os atos dizem mais que palavras”, justificou, citando o histórico de Lula em nomear mulheres para cargos de comando.
Segundo ela, o presidente “incentivou uma mulher a ser presidenta da República” e foi responsável por um número expressivo de indicações femininas em postos estratégicos, como a presidência da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil.
Palavras vs Ações
A tentativa de Gleisi em relativizar a fala de Lula não impediu a onda de críticas, inclusive entre apoiadores do próprio governo. O argumento de que o petista “empoderou as mulheres” pode até se sustentar numericamente, mas não anula a condescendência embutida em sua declaração, que reduziu a capacidade política de sua ministra à aparência física.
No mínimo, um deslize lamentável de alguém que se coloca como referência na defesa da igualdade de gênero.
Além disso, a fala de Lula surge em um contexto ainda mais delicado: apenas seis dias após Jair Bolsonaro (PL) ter protagonizado um episódio de misoginia explícita, ao ser flagrado em um vídeo afirmando que apoiadoras do PT são “feias” e “incomíveis”.
O comentário grotesco do ex-presidente gerou revolta, mas Lula, ao adotar um discurso que também reforça estereótipos machistas, acabou dando munição para que bolsonaristas, como os deputados Nikolas Ferreira (PL-MG) e Zucco (PL-RS), fizessem críticas e ironias sobre sua incoerência.
Hipocrisia política
Gleisi Hoffmann, em sua defesa incondicional de Lula, classificou os críticos da fala presidencial como “oportunistas” e acusou a direita de tentar desmerecer o petista. “Canalhas, respeitem a inteligência do povo brasileiro!”, escreveu nas redes sociais.
É evidente que a misoginia sempre foi uma marca registrada do bolsonarismo, que acumula um vasto histórico de falas repulsivas contra mulheres. O próprio ex-presidente Jair Bolsonaro já foi condenado por afirmar que a deputada Maria do Rosário (PT) “não merece ser estuprada porque é muito feia”.
Entretanto, isso não isenta Lula de ser criticado quando usa a mesma lógica ultrapassada para justificar nomeações políticas.