A sombra do ex-Caixa de Pandora volta a escurecer os gastos com as principais obras de Brasília
Por: Mino Pedrosa
O supersecretário do governo de Ibaneis Rocha, José Humberto Pires de Araújo, conhecido como “pezão”, entrou na mira do Ministério Público local e do Tribunal de Contas do Distrito Federal e agora é chamado pelos investigadores de “mão grande”, seu novo batizado.
O ex-Caixa de Pandora “Zé Humberto” foi processado no governo de José Roberto Arruda por ser um dos pilares do maior escândalo de corrupção que Brasília já conviveu e que chegou a levar o ex-governador preso.
Envolvido diretamente no escândalo conhecido como mensalão do DEM, o mão grande passou a mudar o modus operandis, mas continua com a chave do cofre entregue por Ibaneis.
Com medo de voltar a ser alvo por seus desmandos, o bagri ensaboado, pressionado por sua família, usou de sua sagacidade e decidiu não assinar nenhum documento que possa vinculá-lo diretamente a possíveis novos escândalos.
Sua sombra, contudo, perpassa por todas as importantes obras de Brasília, o que inclui o famoso Túnel de Taguatinga, principal trunfo utilizado e bravejado pelo governador Ibaneis Rocha.
Auditores do Tribunal de Contas do Distrito Federal, porém, apuram em silêncio um superfaturamento na obra do Túnel de Taguatinga, uma das grandes promessas da atual gestão.
O atraso de um ano, porém, teve um responsável, justamente o atual secretário de Governo, José Humberto Pires, que tem usado a função para fazer o que sabe de melhor, saquear os cofres públicos.
A obra na mira do TCDF é tocada pela Secretaria de Obras e o consórcio Novo Túnel, formado pelas empresas Trier Engenharia, Eterc Engenharia e Geosonda. A demora na finalização, porém, tem acarretado mais custos e cada vez mais aditivos.
Até agora, a construção já possui, pelo menos, 10 aditivos, o que representa um aumento de R$ 75 milhões a mais na obra do que o planejado inicialmente.
O túnel faz parte do Corredor Eixo Oeste, assim como a revitalização da Avenida Hélio Prates (R$ 68 milhões), o viaduto do Sudoeste (R$ 24,6 milhões), os viadutos do Setor Policial (R$ 9,1 milhões), a requalificação completa da via Epig (R$ 132 milhões) e a implantação do corredor de ônibus no Setor Policial (R$ 50 milhões). Todas essas obras observadas de perto pelo “mão grande” somam R$ 517 milhões (apenas nos projetos iniciais).
Um outro exemplo do mesmo modus operandi é a participação da construtora La Dart em obras de recuperação de calçadas e instalação de novas passagens de pedestres ao redor da obra do túnel, antes mesmo do início da escavação.
A Administração Regional de Taguatinga, por exemplo, contratou a construtora do empresário Márcio Hélio Teixeira Guimarães, preso em fevereiro de 2019 na Operação Monopólio, por mais de R$ 2 milhões. Guimarães foi administrador da cidade de Taguatinga de julho a dezembro de 2006.
Desde 2019, La Dart já abocanhou dos cofres do GDF, segundo o portal da transparência, R$ 6.7 milhões em recursos oriundos da Novacap, da Secretaria de Obras e das administrações de São Sebastião e Planaltina, além do caso de Taguatinga.
Buscando as digitais do secretário e de seu aliado, os investigadores várias empresas em nome de Márcio Hélio, considerado nas investigações um dos dedos de mão grande no desvio de verbas do GDF.
Ao revisarem 259 licitações feitas por meio da modalidade carta-convite, o TCDF e o MP descobriram que, em pelo menos 128 delas, duas ou mais empresas ligadas a Márcio competiam nas mesmas licitações. Entre elas, está justamente a La Dart.
Os promotores ainda concluíram que os desvios foram fundamentais para o enriquecimento exponencial dos integrantes do bando. O patrimônio de Márcio Hélio Guimarães Júnior, por exemplo, passou de R$ 193 mil para R$ 5,6 milhões em três anos.
Pezão, como é chamado pelo atual governador, foi picado pela mosca azul, mas viu suas ambições políticas adiadas após Ibaneis ceder, a partir de uma composição partidária, a cadeira de vice para a ainda deputada federal Celina Leão (PP).
José Humberto agora, porém, ambiciona disputar a cadeira de Ibaneis em 2026. Ibaneis, contudo, aprendeu a lidar com os iludidos secretários de sua gestão. Ao deixar que corram soltos, alimentando as intrigas internas, os ocupantes do secretariado não percebem que se automutilam permitindo que Ibaneis assista a derrocada dos subordinados de camarote.