Investigadores vão a fundo para respaldar decisões do STF
Por: Mino Pedrosa
As digitais do único documento que caracteriza um plano de desestruturação do Estado, ferindo de morte a democracia, encontrado na residência do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Anderson Torres, poderão linkar o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro aos atos terroristas do dia 8 de janeiro. Nos bastidores do campo bolsonarista ressoa a preocupação de que a verdadeira história venha à tona.
Comenta-se nos bastidores que outro documento pode complicar a vida do governador afastado, Ibaneis Rocha (MDB). Um dossiê robusto de informações que encurrala o emedebista desde o escândalo envolvendo o ex-secretário de Saúde Francisco Araújo e a secretaria de Educação e a ex-Casa Civil de Valdetário Monteiro, que hoje comanda o escritório de advocacia de Ibaneis, Justifica o cumprimento de vários mandados de busca e apreensão cumpridos nesta sexta-feira (20) na residência, no gabinete oficial do Buriti, e no escritório de advocacia do ainda governador afastado.
Durante a construção do primeiro documento, que tentava praticar um golpe de estado no país, sob custódia da Polícia Federal, Anderson chegou a levar a minuta de decreto golpista para que o então presidente da República apreciasse e pusesse em prática o ato golpista.
Bolsonaro então, leva a estratégia do golpe ao conhecimento do alto comando das Forças Armadas, onde só teve apoio da Marinha, tendo o Exército e a Aeronáutica rechaçado a ideia criminosa do ato golpista contra, em especial, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
As digitais, porém, tem duplo sentido. Primeiro, demonstram a cumplicidade de ambos os agentes públicos, depois podem comprovar a participação de Bolsonaro caso tenha manuseado o documento impresso, que poderá estar marcada com as identificações (digitais) de todos que manipularam a minuta, que vem sendo periciada na sede da Polícia Federal.
Lembro que, questionado pelas visitas que Bolsonaro recebia, o então candidato derrotado à vice-presidente Braga Netto, afirmou em novembro passado a apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada que amigos visitavam o local e pediu que os radicais não perdessem a “fé”, já que, segundo ele, tudo aconteceria em seu devido tempo. Poucos imaginavam que a tentativa de golpe já estava em curso.
As provas cabais da ardilosa trama política envolvendo a cúpula do Executivo Nacional, estão no celular deixado em Orlando propositalmente por Anderson Torres, com a intenção de ocultar as provas que elucidariam os crimes cometidos por Jair Bolsonaro, seus apoiadores no serviço público e o governador Ibaneis Rocha.
Contudo, o medo ao celular também tem a intenção de ser utilizado por Anderson como uma moeda de troca para livrar-se da cadeia. Esqueceram, porém, de combinar com os “russos”, já que o Judiciário tende a usar a mão pesada da Justiça para recuperar a dignidade dos Poderes.
Para tentar se salvar, o agora governador afastado por três meses Ibaneis Rocha recorreu aos caciques de seu partido para evitar a sua expulsão da legenda e para que intercedam junto ao ministro Alexandre de Moraes, a fim de se livrar do afastamento de seu mandato.
Os ex-presidentes José Sarney e Michel Temer, acionados por Ibaneis, porém, sabem que a preocupação do emedebista deveria ser para evitar a sua prisão.
Quando optou pelo bolsonarismo, Ibaneis Rocha não imaginava, porém, que sua estranha e perigosa relação com Anderson Torres geraria tamanha dor de cabeça.
Antes ainda de ser nomeado ministro, quando ainda exercia a função de secretário da gestão Ibaneis, Torres chegou a trair o próprio governo quando decidiu vazar informações e documentos a promotores do Ministério Público de Brasília contra gestores das secretarias de Saúde e de Educação.
Indignado, Ibaneis decidiu ordenar a exoneração de Anderson Torres à Casa Civil, mas antes que a decisão fosse publicada, recebeu uma ameaça do poderoso secretário que o fez desistir do afastamento do nomeado.
Após enviar um emissário para que comunicasse a exoneração a Anderson Torres, Ibaneis recebeu a notícia de que dezenas de horas de gravação contra o GDF estavam sob custódia de Torres, que havia grampeado parte da cúpula do governo local. O recado era claro: caso a exoneração fosse publicada, a gestão Ibaneis seria implodida.
Depois do ocorrido, Anderson Torres, que acabara de ganhar mais poder, chegou a receber à época o próprio presidente Jair Bolsonaro nas dependências da Secretaria de Segurança Pública, sem comunicar o governador.
O ex-mandatário tinha um assunto delicado a tratar: o filho “04”. Como policial federal, Anderson conseguiu acesso a um inquérito, que podia ser facilmente transformado em escândalo, sobre Renan Bolsonaro.
Foi a ilustre visita que consumou a ida do então secretário ao Ministério da Justiça. A articulação, porém, chegou a ser mediada pelo advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef.
Já com os poderes de ministro de uma das principais pastas governamentais, Anderson Torres convence Bolsonaro a pressionar o então presidente do União Brasil, o deputado federal Luciano Bivar, a evitar a candidatura do senador Reguffe ao GDF.
Feito isso, Anderson voltou a se aproximar de Ibaneis que, no alge de sua arrogância, não percebeu que o então ministro havia usado o inquérito do laranjal, que gerou uma operação contra Bivar em outubro de 2019, como instrumento de chantagem.
Pouco tempo depois, após as eleições, já sem autonomia junto às Forças de Segurança do DF, Ibaneis observou o centro de Brasília ser queimado. No dia 12 de dezembro o ensaio da tentativa de golpe promovido por radicais bolsonaristas se consumou com a queima de ônibus e o ataque contra a sede da Polícia Federal na capital federal.
Vendo o atentado contra a corporação policial e sendo conivente com a falta de prisões em flagrante após observar calado os atentados terroristas, Ibaneis seguiu na mão de Torres e não o desafiou, mantendo-o no comando da omissa secretaria e mantendo toda a equipe de bolsonaristas infiltrados que parasitaram a Secretaria de Segurança Público do DF.
O retorno de Anderson Torres à pasta local, mesmo com todo o movimento de ministros do Supremo Tribunal Federal e do governo federal, porém, se deu também pelas mãos de Leonardo Prudente, político brasiliense já flagrado guardando dinheiro na meia, Rafael Prudente, seu filho e deputado federal eleito, e o distrital Hermeto, que chegou a nomear a esposa de Anderson Torres para um cargo na Câmara Legislativa do DF.
Sob a conivência da família Prudente, Flávia Sampaio Torres foi nomeada para uma função na liderança do governo na Câmara Distrital com um salário três vezes maior ao que ganhava como funcionária do Banco do Brasil. Até hoje, há funcionários do setor em que Flávia Torres está lotada que nunca a viram.
A relação de Leonardo Prudente com Anderson também já extrapola Brasília. Desafetos de Torres na Polícia Federal estão de posse de um levantamento que vincula ambos a uma sociedade “de uma mineradora” no interior de Goiás. O negócio multimilionário seria de propriedade de ambos.
Leonardo Prudente já disse ao portal não ser sócio, mas a relação de amizade apenas expôs uma pesquisa feita em terras de propriedade do ex-ministro que seriam justamente para averiguar a possibildiade de exploração de minério no local. O que, segundo a PF, pode ter se consolidado.