Próxima reunião do comitê vai ocorrer diante de expectativas do mercado, que espera aumento de 0,50 ponto percentual nos juros
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) inicia nesta semana uma reunião para definir a taxa básica de juros, a Selic, em meio a um contexto econômico desafiador. Com inflação em alta, valorização do dólar e um mercado de trabalho aquecido, a expectativa do mercado financeiro é de que o BC eleve a Selic em 0,50 ponto percentual, levando-a dos atuais 10,75% para 11,25% ao ano.
A reunião do Copom ocorrerá entre esta terça (5) e quarta-feira (6), com a possibilidade de retorno da Selic ao patamar de janeiro, quando a trajetória era de cortes de juros. Em 2024, o BC interrompeu a redução da Selic em junho, estabilizando-a em 10,50% ao ano até então. Posteriormente, a taxa atingiu 10,75%, em 18 de setembro.
Inflação pressiona decisão do Copom
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, acumula alta de 4,42% em 12 meses até setembro, aproximando-se do teto da meta de inflação, fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) entre 1,5% e 4,5%. Em setembro, o IPCA registrou aumento de 0,44%, impulsionado pelos preços da energia elétrica, que subiram 5,36%. O mais recente relatório Focus, do BC, projeta que a inflação pode ultrapassar o limite da meta, chegando a 4,59% até o final do ano.
Para controlar a inflação, o BC recorre à Selic como principal instrumento de política monetária. Economistas veem na nova alta de juros uma tentativa de conter a pressão inflacionária, enquanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se mostra confiante de que o índice poderá se manter dentro da meta até o final do ano.
Segundo o economista Alex Andrade, a projeção de alta da inflação representa um “desafio significativo” para o cumprimento das metas. Para ele, manter a inflação controlada sem prejudicar o crescimento econômico exigirá ajustes na política monetária e fiscal do país. “O Banco Central terá de adotar uma postura cautelosa, mantendo os juros elevados por mais tempo”, afirmou.
Dólar elevado adiciona desafios
A taxa de câmbio é outro fator que influencia a decisão do BC. Na última sexta-feira (1º), o dólar encerrou o pregão em R$ 5,86, registrando alta de 1,53% e alcançando a segunda maior cotação da história. A valorização da moeda americana é atribuída a incertezas sobre as medidas do governo federal para revisão de gastos e a dados econômicos recentes, que alimentam expectativas inflacionárias.
Aquecimento do mercado de trabalho preocupa analistas
O mercado de trabalho segue em expansão, com taxa de desemprego de 6,4% no trimestre encerrado em setembro, a segunda menor da série histórica, iniciada em 2012. Em setembro, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) apontou a criação de 247.818 vagas com carteira assinada, somando 1,98 milhão de novos postos no acumulado do ano.
Para o analista Sidney Lima, o fortalecimento do mercado de trabalho, embora positivo, pode contribuir para “uma pressão inflacionária no longo prazo”, justificando a manutenção de juros elevados pelo BC. Já o economista João Kepler alerta que a combinação de inflação e juros altos pode reduzir o ritmo de contratações. “Com o crédito mais caro e o consumo em queda, o crescimento das novas vagas tende a desacelerar”, pondera Kepler.
A decisão do Copom nesta semana será acompanhada com atenção pelo mercado, que considera a nova elevação dos juros uma tentativa de equilibrar o controle da inflação com o crescimento econômico em um cenário cada vez mais complexo.