Copom avalia aumentar Selic diante de alta do dólar e da inflação

Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a Selic em 10,5% ao ano, pela segunda vez consecutiva, após um ciclo de sete reduções que ocorreu entre agosto de 2023 e maio de 2024

O Banco Central (BC) expressou preocupações sobre a alta do dólar e o impacto dos aumentos nos gastos públicos nas expectativas de inflação, que afetam a definição das próximas medidas de política monetária. Em comunicado nesta terça-feira (6), a instituição destacou que o cenário atual, com projeções inflacionárias elevadas e riscos crescentes, é desafiador. O BC afirmou que “não hesitará em elevar a taxa de juros para garantir que a inflação se mantenha dentro da meta”.

Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a Selic em 10,5% ao ano, pela segunda vez consecutiva, após um ciclo de sete reduções que ocorreu entre agosto de 2023 e maio de 2024. A próxima reunião do Copom está prevista para os dias 17 e 18 de setembro. Os membros do comitê enfatizaram a necessidade de “maior cautela e monitoramento rigoroso dos fatores inflacionários”. Eles avaliarão se manter a taxa de juros por um período prolongado será suficiente para atingir a meta de inflação no horizonte relevante, que se estende até o primeiro trimestre de 2026. O comitê também afirmou que não hesitará em aumentar a taxa de juros se necessário para garantir a convergência da inflação à meta.

A ata da reunião do Copom, realizada entre 30 e 31 de julho e divulgada hoje, revelou que a alta do dólar foi incluída no balanço de riscos do comitê. O documento destaca que a taxa de câmbio foi um dos temas amplamente debatidos, com o BC afirmando que os “fluxos de capital refletem um fenômeno global de aversão ao risco”, o que pressiona a taxa de câmbio de maneira variável, dependendo dos fundamentos de cada economia emergente.

Quando o Copom reduz a Selic, o crédito se torna mais acessível, incentivando a produção e o consumo, o que pode pressionar a inflação. Em contraste, um aumento na Selic visa conter a demanda aquecida, encarecendo o crédito e estimulando a poupança, o que ajuda a controlar os preços.

Inflação

Em junho, a inflação foi de 0,21%, impulsionada principalmente pelos alimentos e bebidas, após registrar 0,46% em maio. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou uma inflação de 4,23% em 12 meses, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A inflação de julho será divulgada na próxima sexta-feira (9). Apesar da recente queda, o índice ainda supera a meta de 3% estabelecida pelo Banco Central, que permite uma variação de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos (1,5% a 4,5%). As previsões de mercado para a inflação de 2024 e 2025 estão em torno de 4,1% e 4%, respectivamente.

Para o horizonte relevante observado pelo BC, que é março de 2026, há uma expectativa de desinflação, mas a projeção de inflação ainda está acima da meta de 3% que será estabelecida pelo sistema de meta contínuo a partir de 2025. No cenário de referência (com redução de juros), a projeção da inflação acumulada em quatro trimestres para o primeiro trimestre de 2026 é de 3,4%, enquanto no cenário alternativo (com manutenção da Selic), a projeção é de 3,2%.

Gastos públicos

A ata da última reunião do Copom também mencionou a preocupação com a alta das expectativas inflacionárias e o impacto dos gastos públicos. O documento aponta que o esmorecimento nas reformas estruturais e na disciplina fiscal, junto com o aumento do crédito direcionado e incertezas sobre a estabilização da dívida pública, pode elevar a taxa de juros neutra da economia. Isso pode afetar negativamente a eficácia da política monetária e aumentar o custo da desinflação.

Além disso, o Copom destacou que a percepção recente dos agentes de mercado sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade fiscal tem gerado impactos significativos sobre os preços dos ativos e as expectativas econômicas.

O BC reiterou que a política monetária não está atrelada mecanicamente às políticas dos países avançados ou à taxa de câmbio, mas sim aos mecanismos de transmissão da conjuntura externa sobre a inflação interna. A alta do dólar, que acumulou uma alta de 15,15% no primeiro semestre de 2024, pressiona os preços domésticos por meio da importação de produtos e da dívida externa. O BC adota uma postura de cautela diante da incerteza global e dos movimentos cambiais abruptos.

A Selic é o principal instrumento do BC para controlar a inflação medida pelo IPCA. Entre março de 2021 e agosto de 2022, o Copom elevou a Selic em 12 ocasiões consecutivas devido à alta dos preços de alimentos, energia e combustíveis. Após esse período, a taxa foi mantida em 13,75% ao ano por um ano. Desde agosto de 2023 até maio de 2024, o BC iniciou uma sequência de sete reduções da Selic. Antes do início desse ciclo de alta, a Selic havia sido reduzida para 2% ao ano em março de 2021, o menor nível histórico, para estimular a economia durante a pandemia de covid-19.

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