Desde que o sistema de bandeiras tarifárias foi implantado, em 2015, a promessa era de transparência na cobrança
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou nesta sexta-feira (25) que os brasileiros voltarão a pagar taxa extra na conta de luz a partir de maio. A medida vai pesar no bolso do consumidor: R$ 1,88 a mais para cada 100 kWh consumidos.
Segundo a Aneel, o motivo do retorno da cobrança é a transição do período úmido para o seco, com previsão de chuvas abaixo da média nos próximos meses. Ou seja: mais uma vez, o clima é usado como justificativa para uma conta que recai sobre a população.
A cobrança extra havia sido suspensa desde dezembro, quando vigorava a bandeira verde. No entanto, mesmo com sinais de recuperação econômica e inflação ainda elevada, a agência opta por transferir ao consumidor o custo da ineficiência sistêmica e da falta de planejamento energético de longo prazo.
“A previsão de geração de energia proveniente de hidroelétrica piorou”, disse a agência, reforçando que o uso das termelétricas deve aumentar.
Desde que o sistema de bandeiras tarifárias foi implantado, em 2015, a promessa era de transparência na cobrança e sinalização clara para o consumidor. Na prática, ele se tornou uma ferramenta de repasse automático de custos, sem que houvesse contrapartida visível em eficiência, modernização da matriz energética ou expansão de fontes renováveis.
A Aneel, em nota, recomendou à população a manutenção de “bons hábitos de consumo” para evitar desperdícios.
A medida vem no momento em que o país tenta conter a inflação. Nesta sexta-feira, o IBGE divulgou o IPCA-15 de abril, que ficou em 0,43%, abaixo do mês anterior, mas ainda pressionado por itens básicos, como alimentos.
No acumulado de 12 meses, o índice é de 5,49%, acima do teto da meta estipulada pelo Banco Central. Com a nova pressão da conta de luz, analistas já falam em risco de alta na taxa de juros em maio, num ciclo que só reforça o impacto negativo da tarifa energética sobre a economia.
Enquanto isso, o consumidor — que pouco participa das decisões estratégicas do setor — continua pagando a conta, literalmente.
Entenda como funciona o sistema de bandeiras tarifárias:
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Bandeira verde: condições favoráveis de geração; sem acréscimo na conta.
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Bandeira amarela: geração mais cara; acréscimo de R$ 0,01885 por kWh consumido.
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Bandeira vermelha patamar 1: geração ainda mais onerosa; acréscimo de R$ 0,04463 por kWh.
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Bandeira vermelha patamar 2: situação crítica de geração; acréscimo de R$ 0,07877 por kWh.