Usuários tentam contornar regras eleitorais em “campeonatos de vídeos” com conteúdos diversos, mas com referências ao candidato, através, inclusive, de hashtags e links
Apesar da ordem judicial que determinou a suspensão imediata das atividades de divulgação relacionadas ao candidato à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB), no Discord, e da proibição de remuneração para quem divulga o conteúdo, a comunidade de apoiadores de Marçal continua com a produção de vídeos sobre o influenciador na plataforma.
Mesmo após o início oficial da campanha eleitoral em 16 de agosto, a seção de cortes ainda apresenta vídeos que promovem Marçal com hashtags eleitorais. Entre os conteúdos, há links para entrevistas recentes do candidato, como as realizadas nos programas Flow e Roda Viva. Além disso, um novo “campeonato de cortes” teve início, em 2 de setembro, com foco em conteúdos relacionados ao influenciador fitness Renato Cariani, que é investigado por tráfico de drogas .
Mesmo quando o regulamento do campeonato não exigia conteúdo sobre Marçal, alguns vídeos faziam referência ao candidato, muitas vezes utilizando hashtags que poderiam ser vistas como uma tentativa de contornar as regras eleitorais.
No dia 16 de agosto, um usuário identificado como “Ativacional Próspero” publicou um vídeo com a hashtag #prefeitomarçal, que leva a uma página no YouTube onde Marçal associa sua candidatura à vontade divina. Grande parte das postagens na seção de cortes faz referência à disputa eleitoral. O conteúdo divulgado promove Marçal ou critica adversários, como Guilherme Boulos (PSOL).
No LinkedIn, em 30 de agosto, foi publicado um vídeo que mistura trechos de uma entrevista com o influenciador Guto Galamba com o conteúdo promocional da campanha de Marçal, com o jingle “O homem disparou”, associado a Marçal desde 2020.
A Justiça Eleitoral adota uma definição ampla de propaganda eleitoral, que abrange não apenas pedidos diretos de votos, mas também comportamentos relacionados aos candidatos. A comunidade “Cortes do Marçal”, com mais de 150 mil membros no Discord, promoveu um campeonato entre junho e julho que exigia o uso da hashtag #prefeitomarçal e a seguir as redes sociais do candidato. O fato foi mencionado em uma ação do PSB, partido da candidata Tabata Amaral, que acusa Marçal de abuso de poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação. A ação ainda solicita a cassação da candidatura do influenciador.
O juiz eleitoral Antonio Maria Patiño Zorz concedeu uma liminar em 24 de agosto que suspende os perfis de Marçal que promoviam a monetização dos cortes. Após a decisão, Marçal afirmou que não pagava diretamente os criadores de conteúdo, o que contradiz declarações anteriores. Ele alegou ainda que os clipadores eram remunerados pelas plataformas de acordo com as visualizações, embora os regulamentos da comunidade no Discord indicassem prêmios conforme as regras internas da competição.
Marçal também negou ter feito pagamentos durante a pré-campanha ou campanha, em resposta às alegações da Justiça Eleitoral sobre a promoção irregular da candidatura.