Cartel: Gravações de diretores e revendedores da Pirelli começam a ser revelados

Áudios obtidos pelo Fatos Online mostram a falta de escrúpulos e a profundidade do sistema criado e mantido pela multinacional Pirelli Brasil Ltda para tentar controlar o mercado brasileiro de pneus.

Por Mino Pedrosa 

Gravações de diretores e revendedores da Pirelli Brasil confessando cartel e outros crimes começarão a ser revelados pelo Fatos Online. Com o intuito de manter o sistema de cartel coordenado pela empresa internacional, Orivaldo, Diretor Comercial da Campneus (empresa que integra o grupo Pirelli), afirma em uma das gravações que estaria “sentando o cacete” nas empresas que se recusavam a integrar o sistema criminoso de ajustamento de preços. Ou seja, o honesto sendo punido por seguir a lei.

“Chegou a um ponto também, Maurício, que, como nós não damos sequência, o meu pessoal fala […]: ‘já que não tem acordo senta o cacete!'”, declarou Orivaldo em uma conversa com o diretor da Grid Pneus, responsável por entregar as gravações às autoridades federais.

As gravações apresentadas por este portal envolvendo diretores e revendedores da companhia internacional foram periciadas e entregues ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e à Polícia Federal. Ambos os órgãos abriram e avançam com profundas investigações contra a multinacional.

Segundo revela Orivaldo em uma de suas conversas gravadas, o grupo trabalhava com um “preço mínimo” a ser oferecido pelo cartel ao cliente, fazendo com que a margem de lucro subisse para todos os envolvidos no esquema criminoso, matando assim, qualquer possibilidade de concorrência. Ouça:

Ao denunciar o caso, o diretor da Grid Pneus (ex-revendedor da Pirelli que reportou o caso às autoridades federais), também enfatizou ao Cade e à PF que as “condutas ilícitas” são reprimidas pela Lei 12.850/13, que “considera organização criminosa a associação de quatro ou mais pessoas estruturalmente ordenada […], ainda que informalmente, com o objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza”.

Para a empresa denunciante, “os áudios demonstram infração a ordem econômica, especialmente tendo em vista que o Grupo Pirelli representa 23% do mercado relevante de pneus, sendo, portanto, capaz de afetar o mercado por meio de seus atos”.

Nos diálogos também é possível escutar diretores da Pirelli negociando um “alinhamento de preços” entre concorrentes. A intenção era apenas uma: “aumentar a margem de lucro da empresa” e dos gananciosos revendedores. Segundo apurou a reportagem, o esquema teria iniciado ainda em 2015.

A “teia de práticas criminosas” montado pela companhia italiana, porém, além de envolver inúmeras empresas nacionais que aderiram ao esquema, acabou afetando, por abuso de poder econômico, o setor como um todo.

Em uma outra conversa que ocorreu entre o denunciante do esquema e João Camargo, gestor financeiro da Prometeon, empresa que atua como fabricante de pneus da Pirelli no Brasil, o empresário confessa que a Pirelli usa de “táticas mafiosas” para aumentar a margem de lucro da companhia.

Redação

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