A gestão desastrosa, escândalos e a luta de uma família pela manutenção no controle da saúde pública em Brasília, revelam a profunda crise enfrentada pelo governo de Ibaneis Rocha
Por Mino Pedrosa
A catastrófica falência do sistema público de saúde do Distrito Federal, anunciada já no tumultuado primeiro mandato de Ibaneis Rocha (MDB-DF) quando o então Secretário de Saúde, Francisco Araújo, viveu momentos sombrios no cárcere, não teve um antídoto eficaz para estancar a gestão temerária e caótica da saúde em Brasília. Por ali passaram ao menos quatro distintos secretários.
A solução em que o governador Ibaneis apostava para tirar o sistema da UTI fracassou novamente. Lucilene Maria Florêncio de Queiroz, médica obstetra e então coordenadora da UPA de Ceilândia, foi convidada para assumir o comando da combalida Secretaria de Saúde do DF. Na chegada, com boas intenções, tentou contratar algumas empresas com a missão de mudar a situação caótica que encontrou.
Logo de cara, a nova secretária encontrou a velha engrenagem da máquina de corrupção ainda instalada na secretaria. A partir daí, era ceder ou sair.
Ao assumir a cadeira de secretária de Saúde, Lucilene priorizou a melhora da classificação do rebento na seleção de novos médicos para o IGES-DF. Desta forma, Felipe Florêncio Freire conseguiu ingressar nas fileiras do Instituto pela janela, pois durante a seleção, saiu da posição 65 para a posição 52. Se tivesse se mantido na posição anterior, teria sido eliminado. O jovem tornou-se médico na UPA de Ceilândia. Não satisfeito, Felipe recebeu o bastão para chefiar a Coordenação de Assistência Pré-Hospitalar, passando do salário de R$ 12.181,25 para R$ 20.302,08.
Um mês após a promoção de Felipe, Lucilene, como presidente do Conselho de Administração do IGES-DF, esperou seu filho ser promovido para então aprovar a Resolução Nº 07, de 27 de setembro de 2023, que proíbe o nepotismo.
Desta forma, a secretária de Saúde contrariou o ditado “casa de ferreiro, espeto de pau”, pois concretizou a primeira diretriz, que era garantir que a saúde em Ceilândia continuasse nas mãos da família. Acontece que a UPA de Ceilândia é considerada a mais importante do DF, porém sua gestão é a mais calamitosa. Escândalos são rotineiros desde a passagem de Lucilene pelo comando da unidade de saúde e continuaram com a má gestão nas mãos de Felipe Florêncio. Diante da ineficiência administrativa, Lucilene, já como secretária, arregimentou a transferência do filho para coordenar a UPA de Sobradinho.
A saúde do DF colocou o governador Ibaneis Rocha numa sinuca de bico, pois ele vem sendo bem avaliado em várias áreas e tem na saúde seu calcanhar de Aquiles, atravessando um verdadeiro calvário. Nos últimos dias, a situação calamitosa da saúde empurrou o governador para uma encruzilhada.
Em um mês, foram três óbitos que devastaram Brasília: uma menina de 8 anos morreu após diagnóstico errado, um bebê de 1 mês morreu por falta de atendimento apropriado, e uma criança de 1 ano morreu após esperar mais de 12 horas por uma ambulância, isso sem citar outros desastrosos atendimentos ou falta deles, evidenciando um verdadeiro caos. Ao ser questionado pela TV Globo sobre a situação, Ibaneis virou as costas e fez cara de paisagem.
Diante disso, a mídia recomeçou uma devassa nos contratos com empresas na Secretaria e forçou o Ministério Público a desengavetar algumas denúncias que adormeciam no fundo da gaveta. Enquanto isso, a subsecretária Nelma Louzeiro passeia por Miami, nos Estados Unidos, alimentando o coração com um namoro internacional, chegando a se ausentar por dois meses do Brasil.
Nelma era telefonista da Secretaria de Saúde e Ibaneis, seu padrinho e conterrâneo, a alçou ao cargo de subsecretária mesmo sem ter a qualificação necessária para tal.
De escândalo em escândalo, a saúde do DF leva o governador Ibaneis a pensar numa solução nada caseira. Porém, enfrenta dificuldades para encontrar um nome. Enquanto isso, Lucilene, Felipe, Nelma, Marcelo Piauí, Lucas Terto e vários outros aplicam literalmente os dizeres: “farinha pouca, meu pirão primeiro.”