Ex-presidente criticou STF e governo Lula durante evento que defende perdão para envolvidos nos atos de 8 de janeiro; temperatura chegou a 30ºC com sensação térmica elevada
Por Mateus Souza
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reuniu apoiadores na orla de Copacabana, no Rio de Janeiro, neste domingo (16/3), em um ato que durou a manhã e a tarde. O evento ocorre em meio à expectativa do julgamento da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o chamado “Núcleo 1”, grupo que inclui Bolsonaro, acusado de tentativa de golpe de Estado. O ex-presidente chegou ao local por volta das 10h, acompanhado de políticos aliados, e discursou por cerca de 40 minutos, defendendo anistia para os envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023.
Durante o discurso, Bolsonaro afirmou não ter “obsessão pelo poder”, mas “amor pelo Brasil”, e garantiu que não deixará o país. Ele criticou o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e contestou pontos da denúncia da PGR. O ex-presidente também destacou a defesa das mulheres, citando nominalmente algumas presas pelos eventos de 8 de janeiro.
O calor intenso, com temperaturas que chegaram a 30ºC na manhã de domingo e sensação térmica ainda mais elevada devido à alta umidade, causou mal-estar entre alguns idosos presentes no evento. Bolsonaro interrompeu brevemente sua fala para pedir atendimento médico a uma pessoa que passou mal. Apesar do incidente, o ato seguiu com discursos de aliados, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o pastor Silas Malafaia, que reforçaram o pedido de anistia.
Crítica ao STF
O ato em Copacabana teve como principal mote a defesa da anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro, quando sedes dos Três Poderes foram invadidas e vandalizadas. Com a condenação de mais 63 pessoas na última semana pelo STF, o número de sentenciados já chega a 480. Bolsonaro e aliados argumentam que os manifestantes foram “atraídos para uma armadilha” e defendem um “perdão” para os condenados.
Além da anistia, o evento também serviu para criticar a atuação do STF, especialmente do ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito que investiga a suposta tentativa de golpe. Bolsonaro acusou o ministro de agir fora da lei e de promover perseguição política. Ele também mencionou casos como o das joias sauditas e da falsificação de comprovante de vacina, afirmando que “sobra só a fumaça do golpe”.
Bolsonaro responde a uma série de acusações na Justiça, incluindo a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) por suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. Ele é investigado por crimes como organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e atentado contra o poder constitucional. Caso a denúncia seja aceita pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro poderá se tornar réu e, se condenado, enfrentar a possibilidade de prisão. O julgamento está marcado para os dias 25 e 26 de março.
Presenças políticas
O ato contou com a presença de diversos políticos alinhados a Bolsonaro, incluindo governadores como Cláudio Castro (PL-RJ) e Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), além de senadores e deputados federais. O líder nacional do PL, Valdemar Costa Neto, também esteve presente, marcando o primeiro grande evento público com Bolsonaro após a revogação de medidas cautelares que os impediam de se encontrarem.
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) participou do ato com um discurso marcado por críticas ao Ministério Público Federal e defesa de Jair Bolsonaro. Ele ironizou a investigação sobre declarações machistas do ex-presidente, dizendo: “Agora é obrigado a achar petista bonita? Como diz o pastor Silas Malafaia, vai ver se eu tô lá na esquina”. Ferreira também reforçou o tom de oposição ao STF e ao governo Lula, ecoando o clima de confronto que permeou o evento.
A manifestação ocorre em um momento de tensão política, com o STF marcando para os dias 25 e 26 de março o julgamento da denúncia da PGR contra Bolsonaro e outros investigados. A análise determinará se o ex-presidente e seus aliados se tornarão réus no processo por tentativa de golpe. O movimento pró-anistia ganha força entre os bolsonaristas, embora especialistas alertem para os riscos de um precedente perigoso para a democracia.
Calor e emoção
Além do conteúdo político, o calor intenso e a alta umidade marcaram o evento, causando desconforto entre os presentes. Apesar disso, o ato seguiu com discursos emocionados e apelos pela liberdade dos presos do 8 de janeiro. Cartazes com os nomes dos condenados foram exibidos, e familiares de alguns dos envolvidos estiveram presentes, reforçando o apelo pela anistia.
O evento em Copacabana é o quarto convocado por Bolsonaro desde que deixou a Presidência e reflete a mobilização de sua base em um momento crucial para seu futuro político e jurídico. Enquanto isso, o debate sobre a anistia e seus limites continua a dividir opiniões no cenário político nacional.