Bolsonaro: a chave da caixa preta nas mãos do ministro Alexandre de Moraes

Por Mino Pedrosa

Na manhã desta quarta-feira (24), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, fez acender a luz vermelha no Palácio do Planalto após determinar condução coercitiva e buscas e apreensões no empresário dono da Tecnisa, Meyer Joseph Nigri, um importante líder da comunidade judaica e financiador e amigo pessoal do presidente Jair Bolsonaro.

Meyer Nigri foi apresentado a Bolsonaro, por Frederick Wasseff advogado da família, nas eleições de 2018, como um megaempresários que o apoiava. A apreensão de documentos e celular de Meyer trouxe à tona relações nada republicanas entre o mundo político e empresarial.

Os documentos apreendidos abasteceram ainda mais a caixa preta a ser usada por Moraes, que já tem em mãos provas que desbaratam o esquema de informações falsas disseminadas nas redes sociais por integrantes da cúpula do governo federal e de empresários associados e que tem como alvo principal o vereador carioca Carlos Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro.

O inquérito das Fake News, de sua relatoria, já constatou o uso clandestino da poderosa ferramenta israelense, conhecida por Pegasus, capaz de invadir celulares e computadores mesmo desligados, no Brasil. Entre as vítimas estão integrantes da própria base do governo Bolsonaro.

A novidade nas investigações, porém, é o rastreamento e monitoramento pelo Departamento de Inteligência da Polícia Federal do advogado da família do presidente, Frederick Wasseff. Os novos elementos associam o defensor à autoria de crimes cibernéticos.

Com atuação no submundo de Brasília, Wasseff é frequentador assíduo do barracão Bezerra de Menezes, na cidade satélite do Gama, do “curandeiro” conhecido como Valentin a quem Wasseff atribui a sua cura de um câncer às mãos do Babalorixá. E quando esta nos cultos, Fred atribui a cura de sua doença ao pastor Marcos Pereira.

Valentin: Centro Espírita Bezerra de Menezes

Também existem provas, obtidas pela corporação policial, de uma suposta gravação envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que chegou a ser divulgada por Wasseff como forma de denegrir a imagem do petista. A Polícia Federal, contudo, periciou e constatou que a voz contida no áudio não corresponde à do ex-mandatário.

A inverídica gravação, porém, tem sido constantemente atribuída a Lula por Wasseff nas redes sociais e em eventos pró-Bolsonaro.

A reportagem descobriu também que, no dia 6 de julho, ao deixar o Palácio do Planalto em companhia do pastor Marcos Pereira, líder da Adud (Assembleia de Deus dos Últimos Dias), Wasseff, segundo agentes da PF, se dirigiu ao escritório do advogado Luiz Carlos da Silva Neto, localizado em uma mansão na QI 19 do Lago Sul, área nobre da capital federal.

Lá, Frederick Wasseff comandou um culto junto a pastores de vários estados e de Brasília e apresentou a gravação fake dizendo que precisariam impedir a volta do “demônio do Lula”.

“Não vamos deixar esse demônio voltar.” “Ele quer transformar o Brasil em uma Venezuela. Não podemos permitir isso. Ouçam com atenção”, afirmou Wasseff ao encostar o microfone do local ao celular com a produção atribuída a Lula.

Marcos Pereira, que seguiu com Wasseff do Planalto ao encontro, foi preso em 2013 após ser acusado do crime de estupro e ficar atrás das grades por um ano e meio. Já o advogado Luiz da Silva Neto ganhou notoriedade após defender o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro no escândalo que o levou à prisão junto com outros pastores lobistas que atuavam no MEC (Ministério da Educação).

No encontro também estava um pastor considerado parceiro de Wasseff na arrecadação de recursos junto às igrejas evangélicas para ajudar na campanha de reeleição do candidato Jair Bolsonaro.

O pastor Itamar dos Santos Silveira é muito conhecido no meio político, tendo sido um operador financeiro do ex-presidente da Câmara Federal Eduardo Cunha, que chegou a ser preso pela operação Lava Jato. Itamar chegou a ser representante do escritório da Petrobras em Brasília nomeado justamente por Cunha.

Hoje, Itamar se intitula pastor evangélico e arrecada, junto às igrejas, recursos, não se sabendo ainda, se para Eduardo Cunha, que disputa uma nova cadeira na Câmara por São Paulo, ou para a campanha presidencial.

O pastor, porém, ganhou notoriedade junto aos políticos quando seu enteado encontrou debaixo de sua cama um saco de 50 quilos de dinheiro. À época, o enteado roubou Itamar e o escândalo parou em uma delegacia da cidade de Águas Claras, no Distrito Federal.

A Polícia Federal não para por aí e continua seguindo os rastros de Wasseff e Itamar principalmente no inquérito das Fake News.

Redação

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