Haddad acredita que o dólar tende a se estabilizar nas próximas semanas
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, atribuiu a recente alta do dólar a “muitos ruídos” e destacou a necessidade de melhorar a comunicação do governo sobre os resultados econômicos. Segundo ele, a moeda norte-americana subiu mais em relação ao real do que em comparação com outras moedas de países emergentes. Haddad fez as declarações nesta segunda-feira (1º), após o dólar fechar em R$ 5,65, o maior nível em dois anos e meio.
“Atribuo (a alta do dólar) a muitos ruídos. Eu já falei isso no Conselhão [reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, na última quinta-feira (27)], precisamos comunicar melhor os resultados econômicos que o país está atingindo”, disse Haddad.
Expectativa de estabilização
Haddad acredita que o dólar tende a se estabilizar nas próximas semanas e pode até reverter parte da alta recente. “Vai acomodar, porque, quando esses processos se desdobrarem, isso tende a reverter, na minha opinião”, declarou. Ele também enfatizou que a decisão sobre uma possível intervenção do Banco Central no câmbio cabe exclusivamente à autoridade monetária.
Arrecadação e comunicação
Como exemplo de notícia positiva que precisa ser bem comunicada, Haddad mencionou o resultado da arrecadação de junho, informado pela Receita Federal. Segundo o ministro, os números vieram acima do previsto, mesmo com o impacto das enchentes no Rio Grande do Sul sobre as contas públicas. “Estamos no sexto mês de boas notícias na atividade econômica e na arrecadação. Vocês vão lembrar que era uma [estimativa de] arrecadação que foi colocada num patamar muito desafiador”, afirmou. A Receita Federal divulgará o resultado da arrecadação federal do primeiro semestre no fim deste mês.
Corte de gastos
Parte da alta do dólar também está relacionada à expectativa do mercado financeiro sobre o anúncio de medidas de corte de gastos para o Orçamento de 2025 e do contingenciamento de verbas públicas para o Orçamento deste ano. Haddad informou que se reunirá com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na quarta-feira (3) para tratar desses temas. O Orçamento de 2025 será enviado ao Congresso em 30 de agosto. Quanto à possibilidade de antecipar o anúncio de medidas de corte de gastos, Haddad afirmou que essa decisão cabe ao presidente Lula.
“O presidente tem um compromisso de não ferir direitos. E esse compromisso vai ser respeitado pela equipe econômica. Nós entendemos perfeitamente a preocupação dele e por isso estamos fazendo um diagnóstico geral das questões que precisam ser enfrentadas”, justificou Haddad.
Contingenciamento
Em relação ao contingenciamento das verbas para 2024, cujo volume será divulgado no próximo dia 22, Haddad afirmou que o governo bloqueará a quantia necessária para cumprir o arcabouço fiscal, que prevê uma meta de déficit primário zero, com margem de tolerância de R$ 28,8 bilhões para mais ou para menos.
“Temos um arcabouço fiscal que tem que ser cumprido. Então, ele vai ser do tamanho necessário para que nossas metas sejam atingidas, tanto do ponto de vista da despesa, que tem um teto [de gastos], quanto do ponto de vista da receita, para que nos aproximemos dentro da banda da meta de 2024. É o nosso esforço. Mesmo considerando esses reveses, eu continuo otimista com o fechamento do semestre”, declarou o ministro.
Reforma tributária e Plano Safra
Haddad informou que a equipe econômica finalizou o Plano Safra, que será anunciado na quarta-feira (3), e acertou eventuais mudanças no projeto que regulamenta a reforma tributária sobre o consumo. Nesta segunda, deputados do grupo de trabalho da Câmara sobre a reforma se reuniram com o ministro e propuseram a inclusão de itens como sal e carne na cesta básica desonerada, em troca de um eventual aumento na tributação sobre apostas.
O secretário extraordinário da Reforma Tributária, Bernard Appy, passará aos parlamentares os impactos que a inclusão de cada produto na cesta básica com alíquota zero terá na alíquota-padrão do futuro Imposto sobre Valor Adicionado (IVA). Pelo texto original do governo, ela ficaria em 26,5%, mas pode aumentar caso o Congresso decida incluir exceções.
“Isso foi discutido e o Appy ficou de passar para eles o impacto de cada excepcionalidade. Do mesmo jeito que fizemos com a PEC [proposta de emenda à Constituição] da reforma tributária. A cada proposta, temos um modelo que funciona, funcionou bem na PEC e funcionará bem na regulamentação”, concluiu Haddad.