A saga de Cortopassi e as sombras sobre a Caesb

Ações nas sombras trazem à tona uma velha raposa especializada em saquear os cofres públicos e colocam a Caesb na mira das autoridades reguladoras

Por Mino Pedrosa

No cenário político do Distrito Federal, uma nova história de corrupção vem à tona, entrelaçando figuras conhecidas de administrações passadas em uma trama que desafia a integridade das instituições públicas. Renato Salles Cortopassi, figura recorrente nos governos de Joaquim Roriz e José Roberto Arruda, agora diretor no Sinduscon-DF, está novamente sob os holofotes, desta vez por catapultar as atividades ilícitas de seu irmão, Roberto Cortopassi, um empresário com um histórico longo e controverso de lobby e manipulação desde os tempos do governo Roriz.

O véu é levantado por um áudio que circula nas esferas internas, onde Roberto revela detalhadamente as operações de um grupo criminoso especializado no saque ao cofre do Governo do Distrito Federal (GDF). A narrativa de suas façanhas vai de fraudes imobiliárias à manipulação de contratos federais, desenrolando-se em um esquema que se aprofunda com a participação de Marcus Emannoel Chaves Vieira, ligado à Vertical Engenharia Civil Ltda, destacando-se como figura chave na aquisição de Atas de Registro de Preços (ARP) para contratações com o Exército Brasileiro.

A trama se complica ainda mais com a revelação de contratos milionários ligados à Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), envolvendo conversas internas e acordos sob a mesa que alcançam somas astronômicas. A estratégia de Cortopassi para solidificar seu poder inclui uma jogada de alto nível ao aproximar-se do novo presidente da Caesb, Luís Antônio Almeida Reis, por meio da intermediação com Juan Carlos Orge Alberte, CEO da Idrica, numa tentativa de estabelecer um contrato vantajoso. No entanto, a traição se revela quando Cortopassi direciona os benefícios para a Lucena Infraestrutura Ltda, uma empresa sob seu controle, evidenciando um plano maior de enriquecimento ilícito.

Para quem não sabe, o presidente da Caesb, Luís Antônio Almeida Reis, é indicação política do presidente do PSD-DF e grande empreiteiro, Paulo Octávio, que já abocanhou várias obras no governo de Ibaneis Rocha.

O luxo e a ostentação marcam presença na forma de aluguéis de carros de luxo T-Cross pela Localiza, financiados pela Lucena Infraestrutura Ltda, enquanto aguardam a liberação de um empréstimo de US$ 100 milhões pela Caesb, aprovado pelo BID. Esse montante, destinado oficialmente ao Programa de Saneamento Ambiental, levanta suspeitas sobre seu verdadeiro destino, dada a histórica manipulação de fundos por parte de Cortopassi.

Além do Distrito Federal, a influência corrupta se estende ao Maranhão, onde Cortopassi utiliza seus artifícios para assegurar contratos de saneamento básico, mostrando a amplitude de sua rede. Gravações exclusivas expõem Roberto admitindo abertamente seus crimes, incluindo corrupção e tráfico de influência, detalhando inclusive pagamentos de propina ao prefeito de Açailândia, Aluísio Silva Sousa.

A magnitude da corrupção exposta por essas revelações demanda uma resposta enérgica e imediata das autoridades competentes. O desmantelamento dessa rede criminosa é imperativo para restaurar a fé na administração pública e assegurar que os recursos destinados ao bem-estar da população sejam usados de maneira transparente e ética. A história de Cortopassi é um lembrete contundente dos desafios enfrentados na luta contra a corrupção, enfatizando a necessidade de vigilância constante e de um compromisso inabalável com a justiça.

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Mino Pedrosa