O queijo suíço que alimenta os roedores parlamentares aparece na planilha apreendida pela PF e pelo MPF
Por Mino Pedrosa
A promiscuidade partidária entre a Câmara Distrital e o Governo do Distrito Federal cega o eleitor brasiliense, que acredita inocentemente na independência de seus representantes eleitos. Uma vexaminosa planilha formulada pela Casa Civil, em conjunto com a secretaria de Relações Institucionais do GDF, obtida pelo portal, revela o modus operandis da gestão de Ibaneis Rocha à frente do Palácio do Buriti.
Este documento formulado pelo comando do governo local também foi encontrado pela Polícia Federal. A fatura planilhada retrata justamente o jogo de toma lá, da cá que alimenta a grande maioria dos partidos políticos e dos deputados distritais reféns do GDF.
Em entrevista ontem ao Correio Braziliense, a autoridade parlamentar, deputado Chico Vigilante, do PT, evidencia o apoio velado e cínico a Ibaneis. Na conversa ao veículo local, o petista fez jus aos inúmeros cargos entregues a ele em troca do apoio integral em projetos de interesse do governo.
Na planilha guardada a sete chaves por Ibaneis consta o nome do petista como detentor das administrações regionais de Ceilândia e Sol Nascente, reduto eleitoral de Chico Vigilante.
Na tarde desta terça-feira (14), a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da CLDF, que tem como presidente justamente o petista Chico Vigilante, aprovou oito requerimentos solicitando documentos e quebras de sigilo de Anderson Torres, mesmo sabendo que o principal sigilo não poderá ser cumprido, já que o celular do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública foi descartado nos EUA, como confessou o próprio Torres.
Chama atenção o fato de a CPI começar descartando a farta documentação que está de posse do Ministério Público Federal e que não foi, nem sequer, cogitada pelo colegiado brasiliense.
A planilha elaborada pelo GDF, porém, evidencia a quão omissa será a CPI e apresenta ao pública da capital federal o mapa revelador do fisiologismo dos representantes distritais.
O documento recebido pela reportagem também mostra a vantagem em ter sido líder do governo na CLDF. A planilha aponta que o atual relator da CPI, distrital Hermeto (MDB), possui o controle das administrações do Riacho Fundo I, do Park Way, da Candangolândia, do Bandeirante, além do poder de indicar o comando da Polícia Militar do Distrito Federal (este, alvo das investigações do colegiado).
Já o atual presidente da Câmara Distrital, o deputado Wellington Luiz, ficou somente como padrinho da Polícia Civil do DF, sendo o responsável por indicar os principais nomes da corporação.
Da base do governo, o distrital Robério Negreiros se viu contemplado com duas secretarias, a do Trabalho e a do Desenvolvimento Econômico, e mais duas RAs, a da Fercal, e a do SIA (Setor de Indústria e Abastecimento).
Um dos partidos mais fiéis ao GDF de Ibaneis, o Republicanos, foi um dos que mais indicaram representantes a cargos chaves na administração pública local. Entre as entregas estão a administração do Lago Norte, do Varjão e do Itapoã. Secretarias também foram dadas à legenda partidária em troca do apoio político.
O ex-distrital Rodrigo Delmasso e ex-responsável pela comunicação da CLDF, ficou como secretário da Família e Juventude, enquanto o deputado federal Júlio Cesar se mantém como representante do Esporte e Lazer no DF. Curioso, porém, é a constatação de que o comunicador e deputado federal recém-eleito, Fred Linhares, já possui a sua fatia no bolo, sendo responsável por indicar servidores à secretaria de Ciência e Tecnologia.
Voltando a tratar da oposição, a planilha também revela que o petista Ricardo Vale ficou com a Codeplan, o coração da informática do GDF.
Estranhamente aparece na lista o nome do conselheiro do Tribunal de Contas do DF, órgão responsável pela fiscalização do orçamento, o nome de André Clemente (foto) no comando da secretária de Fazenda, responsável pelo cofre do governo. A pasta é fruto de uma separação da antiga secretaria de Economia, que resultou também na retomada da pasta do Planejamento, que ficou com Ney Ferraz.
Também consta na planilha a vice-governadora e atual gestora do DF, Celina Leão, que aparece como responsável pela secretaria da Mulher, Sedes, SLU e administração do Riacho Fundo II.
Responsável por um orçamento de bilhões, o presidente do Banco de Brasília (BRB), Paulo Henrique Costa, é apontado como sendo da cota do “PP Nacional”.
Os distritais que aparecem na planilha como “não contemplados” são os parlamentares Fábio Felix (Psol), Max Maciel (Psol), Gabriel Magno (PT), Dayse Amarilio (PSB), Paula Belmonte (Cidadania), Jorge Viana (PSD) e Eduardo Pedrosa (União Brasil).
A lista obtida pelo portal, porém, segue sob custódia do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, mas pode ter sido atualizada às vésperas da CPI.
No começo do mandato, vale lembrar que Ibaneis colocou, por meio de um contrato de gaveta formulado por seu escritório particular, um luxuoso apartamento de cobertura no Sudoeste, Bairro Nobre de Brasília, para moradia do ex-presidente da CLDF e atual deputado federal Rafael Prudente.
Ao que tudo indica, a Câmara Distrital é um puxadinho do Palácio do Buriti, onde estão todos juntos e misturados. Leia com atenção o restante dos nomes contemplados pelo GDF e contidos na planilha.
Após a publicação desta reportagem, a governadora em exercício, Celina Leão (PP-DF) entrou em contato com a redação de Fatos Online afirmando o seguinte; “As Relações da Câmara com o GDF são legítimas e transparentes pautada no respeito e na independência dos poderes . A referida tabela não corresponde à verdade” disse Celina.
Também o Diretor Geral da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) Robson Cândido em contato com a redação, disse que o atual presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), Wellington Luiz, jamais indicou qualquer pessoa para cargos na PCDF. “Os cargos são de natureza técnica, indicados por mim”, afirmou Robson.
A planilha está disponível nos autos do Inquérito (INQ) 4879 (atos antidemocráticos) e atendeu pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), que busca a coleta de provas de eventuais ações ou omissões dos investigados nos atos criminosos contra o Estado Democrático de Direito. O sigilo da fonte é sagrado e esta redação não vai ceder a pressões políticas.