A fita que reacende a Pandora: O passado bate à porta

Por Mino Pedrosa

Na quarta-feira (10), o MPU (Ministério Público da União) receberá uma coletânea de gravações (em áudio e vídeo) onde fica explícita a política rasteira que move Brasília nos bastidores. As novas provas estão sendo periciadas por um renomado perito em Campinas (SP).

Em 2010, o ex-governador José Roberto Arruda e a sua esposa, Flávia Arruda, saíram em busca de uma gravação em que o ex-governador Joaquim Roriz era flagrado pagando propina com dinheiro público em troca do silêncio de um empresário que havia ajudado o então governador a desviar recursos públicos.

Um dos intermediários foi o atual secretário de Comunicação de Ibaneis, Wellington Moraes, que também era secretário da mesma pasta durante a gestão de Arruda no GDF. Na ocasião, Roriz era candidato ao Governo do Distrito Federal, e desistiu sendo, porém, substituído por sua esposa, dona Weslian Roriz, após desistir da candidatura.

Durante a deflagração da operação Caixa de Pandora, que desnuda Arruda até hoje, o político ardiloso, pediu ao então empresário que gravasse Joaquim Roriz, prometendo pagar milhões pela fita. O investidor então, cumpriu o acordo. Durante esse processo, contudo, o agora candidato a deputado federal chegou a ser surpreendido e preso pela polícia ao tentar comprar uma testemunha no escândalo Caixa de Pandora, com ele o intermediário, Wellington Moraes, que à época amargaram um tempo de cárcere.

Após ser solto, Arruda procurou de imediato o empresário dono da gravação. Dessa vez com a intenção de responsabilizar o delator do escândalo, Durval Barbosa, que era tido por ele como protetor da família Roriz segurando provas que poderiam mostra a realidade da corrupção no DF.

Reprodução de vídeo do momento em que o ex-governador do DF, Joaquim Roriz faz pagamento de propina a empresário

 

A intenção de Arruda era de anular os depoimentos de Durval Barbosa no processo Caixa de Pandora, que o incriminava. Dessa maneira, Arruda e Flávia tiveram alguns encontros com o empresário negociando o valor e a forma de pagamento pela fita.

De forma precisa, interlocutores de José Roberto Arruda e o próprio casal político tiveram quatro encontros com o empresário, sendo que um deles, o investidor estava acompanhado.

O primeiro encontro se deu entre o empresário e o articulador político Fábio Simão, réu também no processo Caixa de Pandora é fiel escudeiro de Arruda. Já a segunda reunião ocorreu na residência oficial em Águas Claras onde participaram o empresário, o pai e o governador.

Nessa ocasião, porém, Flávia Arruda se afasta da sala com um dos empresários que participaram encontro, deixando um deles em uma conversa particular com Arruda e Nélio Machado o advogado. Flávia não sabia, porém, que estava sendo gravada justamente pelo empresário que ela levou para o canto da sala e contou a esse interlocutor o objetivo das fitas que mostravam corrupção do então Governador Joaquim Roriz.

A visita à residência oficial foi produtiva, já que um dos empresários retornou ao palacete outras duas vezes.

À época, Flávia era simplesmente esposa do político e usava um telefone público (orelhão) em frente à sua residência no Park Way para tratar das gravações enquanto Arruda havia sido afetado pela Pandora. Foi desta forma que Flávia tentou negociar com o empresário e o convocou para as reuniões na residência de Águas Claras.

No último encontro, no entanto, Arruda recebeu em sua casa o empresário e um interlocutor, que não era o Wellington Moraes, e acompanhado de seu advogado à época, Nélio Machado, um criminalista renomado, com escritório do Rio de Janeiro e em São Paulo, e ali definiram com Flávia a forma de pagamento para a aquisição da gravação.

Segundo os novos áudios, que serão entregues ao MP e que remexem com a Caixa de Pandora, o casal Arruda indicou um político para efetuar o pagamento. O advogado na gravação, porém, questiona a necessidade daquela fita, quando Arruda e a esposa reforçam a necessidade da tramoia para incriminar o delator Durval Barbosa, o que explicita, pelo menos, o crime de obstrução de justiça.

Reprodução de vídeo do momento em que o ex-governador do DF, Joaquim Roriz faz pagamento de propina a empresário

 

Naquele momento, o empresário mostrou o áudio e o vídeo de Roriz para o advogado Nélio Machado e o casal, o que cada vez mais enchia os olhos do político brasiliense no sentido de matar dois coelhos com uma cajadada só (destruir Joaquim Roriz e minar a credibilidade de Durval Barbosa).

Iludidos com a gravação, o casal Arruda manda depois, outros interlocutores conversarem com o empresário a fim de renegociar o valor combinado. Parte do pagamento seria no ato da compra e a outra parte quando Arruda retornasse ao governo, o que não ocorreu.

Posteriormente, sem os direitos políticos devido à condenação em colegiado por conta da Caixa de Pandora, Arruda lança sua esposa como herdeira de seu espólio político, acreditando que dificilmente teria chance de voltar ao GDF.

O experiente político, porém, nunca perdeu a esperança, manobrando durante anos na Justiça com Paulo Octávio, que também aparece envolvido na Pandora, para protelar seus processos até os dias atuais em busca da prescrição.

Recentemente, em uma manobra da Justiça, Arruda consegue, por intermédio de liminar, os direitos políticos. E com o Paulo Octávio, investiram contra Ibaneis Rocha a fim de formar uma chapa única que agradasse ao presidente Jair Bolsonaro, mais não contaram com uma potêncial adversária a primeira dama Michelle Bolsonaro, que lançou para concorrer com Flávia Arruda, a ex ministra Damares.

O que Arruda não contava foi, com o desgaste de Flávia no Palácio do Planalto com traições envolvendo ministros com nomeações no TCU e no quesito amoroso, onde Flávia foi impulsionada na ascensão política por caciqueis da base aliada do governo Bolsonaro.

Paulo Octávio então, operou nos bastidores com Arruda a fim de se lançar candidato ao GDF, o que ficará comprovando a traição, novamente, de Arruda ao governador Ibaneis Rocha.

Na sexta-feira (5) passada, Arruda postou em suas redes sociais uma missa em homenagem ao aniversário de 86 anos do ex-governador Joaquim Roriz. O que chama atenção é a saudade e o amor que ele teria pelo ex-político. Durante a missa, com Flávia ao lado, porém, Arruda expressa tristeza, mas escondido por trás da máscara, está a verdadeira face do traidor.

Hoje, Arruda e Flávia repetem suas índoles contra Ibaneis Rocha. Eles dizem estar alinhados com o Buriti, enquanto já conversam e trocam planos com Paulo Octávio e integrantes de sua chapa.

Mino Pedrosa

Share on facebook
Share on twitter
Share on whatsapp
Share on telegram